quarta-feira, 30 de junho de 2010

Inspiração

O vídeo faz parte do projeto “Coisas que eu queria saber aos 21 anos”, uma parceria da Livraria Cultura com O Estadão. Na entrevista o biólogo Fernando Reinach conta o que motivou sua escolha profissional.

PROGRAMA DE MOBILIDADE ESTUDANTIL


É um “intercâmbio” entre as universidades federais. Pode ter a duração de seis meses e ser estendido por um ano. Há uma bolsa disponível através do Santander Universidades (http://www.santanderuniversidades.com.br/site/noticia/index.jsp?idMateria=88&idCanal=3).

Os pré-requisitos são: que seja aluno da graduação (que tenha cursado todas as disciplinas obrigatórias do primeiro e segundo semestre do curso, com, no máximo, uma reprovação); o aluno deve ter ingressado na UnB através do vestibular ou do PAS; as matérias a serem cursadas na instituição destino serão da área específica do curso do graduando.

É necessário que se verifique no site da Universidade pretendida qual o prazo para solicitar matrícula em mobilidade e quais os documentos necessários.

De posse dessas informações o aluno deverá elaborar junto com o Coordenador do seu curso, aqui na UnB, um ofício com a sua apresentação e a listagem das disciplinas equivalentes na Universidade pretendida (declaração de equivalência). As disciplinas precisam ser equivalentes para que no seu retorno à UnB as mesmas tenham aproveitamento de créditos.

Juntamente ao ofício do Coordenador são necessários outros documentos:

1) carta de motivação onde o aluno descreverá as razões que o motivaram escolher a Universidade pretendida;
2) histórico escolar;
3) documentos exigidos pela Universidade pretendida;
4) cópia RG e CPF;
5) declaração de equivalência das disciplinas assinada pelo Coordenador do Curso.

Depois de pronto, o processo deverá ser encaminhado pela secretaria do curso, via UnBDoc, para DAIA.



Para maiores informações:

intercambiodaia@unb.br (61) 3307-2540 (61) 3307-2540

Moira – Agronomia/UnB (fez a mobilidade em 2009 para Universidade Federal de Viçosa)

moiraparanagua@hotmail.com


Para Pensar

"A escolha relativa do historiador é feita, apenas, entre uma história que ensina mais e explica menos e uma história que explica mais e ensina menos. A história biográfica e anedótica, que está bem embaixo na escala, é uma história fraca que não contém sua própria inteligibilidade, e só quando transportada, em bloco, para dentro de uma história mais forte do que ela, é que lhe advém essa inteligibilidade. Contudo, estaríamos enganados se acreditássemos que esses encaixes reconstituem, progressivamente, uma história total, pois o que se ganha de um lado perde-se do outro. A história biográfica e anedótica é a menos explicativa, mas a mais rica do ponto de vista da informação, já que considera os indivíduos nas suas particularidades e detalha, para cada um deles, as nuances do caráter, a sinuosidade de seus motivos, as etapas de sua deliberação. Essa informação é esquematizada, depois abolida, quando se passa a histórias cada vez mais fortes."

Claude Lévi-Strauss, in Pensamento Selvagem


segunda-feira, 21 de junho de 2010

História e Música II: A JUVENTUDE DO PÓS-GUERRA

A juventude possui uma especificidade e não deve ser concebida como uma idade igual às outras. Porém, há dificuldades para se definir o que ela é de fato, algo irredutível a uma definição estável e concreta. A juventude é uma construção social e cultural que possui um caráter de limite: está situada “no interior das margens móveis entre a dependência infantil e a autonomia da idade adulta.” (LEVI e SCHMITT, 1996) Essa característica vem determinando as atitudes sociais e a visão que os jovens têm de si mesmos.

Essa construção cultural é carregada de símbolos, de potencialidade e fragilidade. Em torno da juventude é criado um conjunto de imagens fortes, de modos de pensar, de representações de si própria e também da sociedade como um todo.

Segundo Luisa Passerini, o discurso sobre o jovem do início do século XX até 1968, foi caracterizado pela ênfase no gênero masculino e nas classes médias. Com o surgimento do teenager nos Estados Unidos desencadeia-se um debate sobre os jovens que “mostrava a crise profunda de um sistema de valores concebido como baluarte do Ocidente”.

O debate sobre a juventude nos Estados Unidos teve uma significativa etapa com a publicação de “Adolescente” em 1904 por G. Stanley Hall, que anunciava a “descoberta” do adolescente americano. Hall atribuía a essa faixa etária qualidades antitéticas: hiperatividade e inércia, sensibilidade social e autocentrismo, etc.

Na década de 1950 o termo, teenager, atingiu o seu auge. A adolescência adquiriu um estatuto legal e social, houve então uma série de intervenções governamentais. Tais intervenções refletem o modo como a sociedade percebia os jovens: indivíduos perigosos para si próprios e para comunidade, necessitando de ajuda e proteção.

Essa “primeira geração de adolescentes” apresentava acentuada coesão, um auto-reconhecimento como uma comunidade especial com interesses em comum. A figura do adolescente era associada à vida urbana e a high school, com as atividades extracurriculares como esportes e bailes, e lugares acessórios como o automóvel e o bar para jovens. O sistema de valores dos adolescentes dava extrema relevância à aparência por meio das roupas, popularidade e atrativos exteriores. A adolescência parecia tornar-se mais um universo em si.

A delinqüência juvenil era vista pela sociedade como qualquer comportamento irregular, como a linguagem obscena ou um modo diferente de se vestir. A subcultura juvenil vista como agressiva incluía “o rock and roll, o uso de carros com motor envenenado e a carroceria modificada de modo a personalizá-la, o corte de cabelo à Presley ou os cabelos longos, a roupa retomando estilos afro-americanos, as gangues”. (PASSERINI, 1996) Tal delinqüência estava ampliando, acreditava-se que por causa dos meios de comunicação em massa preferidos dos jovens: histórias em quadrinhos, rádio, cinema e também as revistas juvenis que “difundiam e defendiam músicas capazes de dar coesão e identidade à cultura juvenil”. (PASSERINI, 1996).

Os adolescentes de 1950 eram um grupo bastante diversificado com gostos e valores contraditórios e fortes conflitos internos. O polimorfismo é o elemento marcante da experiência social dos jovens. Talvez por isso os jovens rompessem as barreiras de cor e gênero, escolhendo ídolos andróginos e de comportamento “negro”. A ruptura ocorria de modo simbólico ou parcial, seguindo um impulso para encontrar identidades novas.

Como nota Passerini, a juventude pode servir de metáfora do social, do discurso que a sociedade produz de si mesma e sobre as próprias inquietudes. A década de 1950 era, apesar do bem-estar crescente e da crença no destino magnífico e progressista dos EUA, a da execução do casal Rosenberg e das angústias provocadas pela Guerra Fria. Os teenagers eram a primeira geração que crescia com a ameaça da bomba.


Referencias bibliográficas:

PASSERINI, Luiza. “A Juventude, metáfora da mudança social. Dois debates sobre os jovens: a Itália fascista e os Estados Unidos da década de 1950”. In: LEVI, Giovanni e SCHMITT, Jean-Claude. História dos jovens 2: A Época Contemporânea. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.



Amanda Camylla e Thiago Dornelles são alunos do quinto semestre de História na UnB


“Ofélia, meu cachimbo e o mar”, um conto de Murilo Rubião.

Murilo Rubião começou a escrever os seus contos no final da década de 1930. Durante sua vida, o escritor mineiro foi, basicamente, reescrevendo os mesmos textos: sua obra completa é composta por 33 contos curtos. Segundo o próprio autor, as leituras que mais marcaram sua escrita foram, entre outras, a Bíblia, a mitologia grega, contos do folclore alemão e Machado de Assis. Isso dá uma pista para entendermos o seu modo de contar histórias, permeado de elementos mágicos, imprevistos, enigmas. Tudo isso, porém, visto sob o prisma do gênero do fantástico – o que significa que, em Murilo Rubião, não há uma ordem sobrenatural ou transcendente sustentando os acontecimentos “extraordinários”. Estes indicam a própria condição misteriosa do cotidiano e da banalidade.
Vou comentar um conto em que Rubião fez, no meu ponto de vista, uma interpretação da história do Brasil no horizonte do fantástico. “Ofélia, meu cachimbo e o mar” é apresentado como uma conversa entre o protagonista e uma silenciosa Ofélia. O aparente desinteresse da “parceira” pela fala do protagonista é reforçado pelo tom de devaneio do que ele diz. Em alguns momentos parece que estamos menos diante de uma conversa, e mais diante de um monólogo, como se ele estivesse apenas “pensando alto”. Em meio a estes devaneios, descobrimos que o protagonista tem uma relação visceral com o mar – relação, por vezes, grotesca ou ridícula. Seu pai morreu engasgado com uma espinha de peixe, sua esposa tinha “cara de tainha e odor de lagostas”. Seu bisavô foi capitão de navio negreiro.
Neste momento, o tom ridículo começa a ganhar um viés de humor negro. O protagonista explica para Ofélia que, apesar de falar sobre o mar, a marca de sua linhagem, das gerações que o antecederam é o gosto pela caça, especialmente por abater “animais do gênero humano”. Então, de repente, Ofélia late. E ficamos sabendo que a interlocutora do conto era uma cadela. Diante do olhar incrédulo do animal, o protagonista então afirma que sua genealogia é uma fraude, que seu bisavô “herói” violento do tráfico de escravos tinha existência apenas em sua fantasia. O fato de Ofélia ser um cachorro traz, além da surpresa, um sentido ainda mais forte de falsa conversa, pois o diálogo fingido sempre foi, de fato, um monólogo.
O que pretendo destacar aqui é que as memórias do protagonista se confundem, em muitos aspectos, com a história do Brasil. Mas, interpretada como uma espécie de “normalidade brutal”, violência miúda – ou ridicularizada como uma seqüência de acidentes grotescos. A atração pelo mar, o chamado “mundo Atlântico” e as redes do comércio escravista vistos como gosto pela caça, pura e simples. Nada de grandes navegadores, nada do mar “salgado pelas lágrimas de Portugal”. O que se complica, ainda, pelo fato de o protagonista ter um tipo de compulsão pela mentira e pelo auto-engano. Isso não quer dizer que tudo o que ele conta seja pura “invenção”. Pelo contrário, é nas entrelinhas do seu discurso que entrevemos a violência que ele parece incapaz de reconhecer por si mesmo; há verdade em seus devaneios e mentiras. Neste sentido, o conto pode ser lido como quase-paródia à mitologia nacional sobre a cordialidade, as relações sociais pacíficas ou a bondade do brasileiro. Arrisco uma comparação: o protagonista do conto poderia ser, por exemplo, alguém como Gilberto Freyre, autor de uma obra em que história e memorialística se confundem, e em que a violência é muito presente, mas pela via da denegação: “nós não fazemos isso o que estamos fazendo”.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cafe Historia

"O Café História é uma rede social voltada para estudantes, professores, pesquisadores e amantes de História. Sua interface se baseia no conceito deWeb 2.0: cada internauta é potencialmente um produtor de conteúdo."

Para Pensar

"A história não diz respeito ao homem em seu ser íntimo e nem perturba o sentimento que tem de si próprio. Por que, então, ele se interessa pelo seu passado? Não é porque ele mesmo seja histórico, pois a natureza não o interessa menos; esse interesse tem duas razões. Primeiramente, o fato de pertencermos a um grupo nacional, social, familiar... pode fazer com que o passado desse grupo tenha um atrativo particular para nós; a segunda razão é a curiosidade, seja anedótica ou acompanhada de uma exigência da inteligibilidade."

"O teatro da história faz o espectador sentir paixões que, sendo vividas intelectualmente, sofrem uma espécie de purificação; sua gratuidade torna vão qualquer sentimento não-apolítico. Não se trata, evidentemente, de uma lição de "sabedoria", já que escrever a história é uma atividade de conhecimento e não uma arte de viver; é uma particularidade curiosa da profissão de historiador."

Paul Veyne, Como se escreve a história, Uma atividade intelectual.


A Beleza do Século Dezoito. Poema de Sosígenes Costa

Grande dama brasileira,
adorno da casa-grande,
a dona da casa de saia de chita,
camisa de flores bordadas,
corpete de veludo
e ainda por cima uma faixa.
E com chinelas de cara de gato?
Tudo é possível nesta casa-grande.

Senhora de baraço e cutelo,
encantos de quem tem saudades
por um tempo que não volta mais,
a dona da casa de saia de chita,
camisa de flores bordadas
e cheia de colares e tetéias
e berloques e figas e cabelos encastoados,
numa ourama dos pecados
e veja só:
sentada ali na esteira entre mucamas e moleques,
em vez de ir sentar-se no sofá de jacarandá
com decorações, incrustrações, entalhes, o diabo,
e do tamanho de um bonde?
Tudo é possível nesta casa-grande.

A dona da casa de saia de chita,
camisa de flores bordada
e corpete de veludo
e saindo de casa nestes trajes, santo Deus,
para a missa da festa,
acompanhada de mucamas e moleques
e a negrada carregando a princesa nas costas
dentro de uma rede coberta de pesados tapetes,
conforme diz a crônica muito amável.

Mandarina de Pernambuco,
mandachuva da senzala,
delícias de quem tem saudades,
lembrança de quem suspira
por um tempo muito bonito
mas em que se apanhava muito
de chicote de cavalo
e que não há de voltar mais,
com fé em Deus.

Dentro desta evocação
há muitas flores, Perpétua.
Há um bocado de suspiro
e outro tanto de saudade
e a vontade que ainda viva
aquele rei de Portugal.

Pode suspirar à vontade
que aquele tempo, sempre-viva,
não há de voltar mais,
com fé em Deus."