quinta-feira, 30 de junho de 2011

SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR

Olá pessoal, no link abaixo está disponível uma entrevista do site do " Café História" com o senador Paulo Paim, autor projeto de lei que pretende regulamentar a profissão de historiador no Brasil.

Aproveitem o texto e comentem!

http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/arquivo-conversa-cappuccino-8

terça-feira, 21 de junho de 2011

A função social da fofoca: Uma história mal contada

Muito se fala sobre a recente e imensa inovação temática do campo historiográfico. Por outro lado, quando observamos a situação atentamente notamos um dado curioso, complementar à dita inovação: a grande quantidade de temas pouco explorados. Um deles é a fofoca. Aparentemente fútil e mesquinha, a prática e o estilo da fofoca pode ser excelente indicativo sobre os modos de funcionamento da vida social e dos mecanismos de poder em um dado momento histórico.
Pensando meio aleatoriamente, consigo me lembrar de três livros que poderiam inspirar uma pesquisa desse tipo. O primeiro, o belo capítulo “O rumor também é um deus”, do livro A escrita de orfeu de Marcel Detienne. Detienne apresenta o Rumor como uma espécie de potência grega, representada por um ser grotesco de inúmeros olhos e línguas. O Rumor seria a força criadora das palavras que se proliferam pelo mundo, sem autoria definida. O disse-me-disse que toma conta de todas as vozes, sem origem definida. A figura esboçada por Detienne chega a ser encantadora: o Rumor tem o seu charme por ser uma fala desautorizada, sem amparo institucional, alheia ao poder.
O segundo livro já nos dá uma imagem com menos charme. Em A Sociedade de Corte, Norbert Elias apresenta o quadro de uma vida social regida pela luta pelo prestígio. A Corte seria exatamente o meio social em que o poder tinha como base não a riqueza econômica ou a força militar, mas o “bom nome”, as “boas relações” – algo semelhante à universidade. Por isso, a vida na Corte era um constante jogo onde se procurava aniquilar o prestígio dos concorrentes. Um dos meios eficazes para tal era a fofoca. Interessa notar aqui que a fofoca, diferentemente do Rumor, seria a encarnação do poder e não o que a ele se subtrai. Seus recursos retóricos tinham como base os preconceitos compartilhados, a moral comum. Ou seja: o moralismo e a hipocrisia como armas de luta do fofoqueiro – seu modo de conseguir respeito e ameaçar os outros com o desrespeito alheio. Ainda aqui, o fato de a fofoca não ter um autor em nada diminui seu efeito, por assim dizer, perverso, uma vez que aquele que acredita na fofoca também é fofoqueiro. Um efeito correlato, extrapolando um pouco o dito explicitamente no livro de Elias, pode ser chamado de policial. No sentido clássico do termo - o policiamento como governo, administração dos costumes, correção dos desvios: o alvo da fofoca sendo o comportamento tido como imoral, desviante, escandaloso. Sendo assim, a fofoca como discurso eminentemente conservador e mesmo reacionário. O fofoqueiro supõe-se, aqui, o porta-voz da moral, daí sua inerente hipocrisia. O fofoqueiro como julgador: daí seu olhar de ódio e ameaça.
Um quadro semelhante, mas ainda mais sombrio temos no romance Ninho de cobras de Ledo Ivo. Mais sombrio porque neste caso o fofoqueiro é o delator, o dedo-duro. Já não sendo, portanto, alguém que usa a moral comum para seus jogos de poder, mas o perseguidor, o investigador e o chantagista. Não é para menos: o romance é uma alegoria do autoritarismo em geral e da ditadura militar em particular, situações em que o dedo-duro adquire aura de herói patriota. Por assim dizer, a fofoca como serviço de utilidade pública. Em diferentes situações, a fofoca tem diferentes funções e sentidos. Daí o seu interesse histórico. Ainda que carregado de melancolia. Quando estudamos o tema, estamos diante do nosso lado mesquinho, acusador. A fofoca é convincente porque se baseia em evidências, naquilo que todos vêem e sabem, no que não é segredo para ninguém. Mas a isso, a fofoca sobrepõe suas próprias interpretações e pontos de vista. Que nada mais são do que o senso comum, os pressupostos e preconceitos disfarçados de defesa da ética. Ou seja, mesmo com melancolia, uma pesquisa sobre a fofoca deveria reconhecer que não há nada de mais ordinário (no sentido de comum) do que um fofoqueiro e as banalidades que ele diz, com sua postura, ora de delator, ora de policial, ora de juiz da moralidade pública.
As fontes para tal pesquisa deveriam ser variadas. O tema exigiria uma procura refinada, uma vez que a fofoca desliza socialmente, espalha-se, dissemina-se. E, claro, é fundamentalmente oral. Sua teoria poderia se basear em livros como os que indiquei e na observação da vida social à nossa volta.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Carreira de pesquisador em História por Carlos Fico

Olá pessoal, gostei muito desse post do Prof. Carlos Fico.
Diversos professores do nosso Departamento fizeram uma trajetória similar a que ele descreve.
Aproveitem a leitura e os conselhos!
Abs,

Sara Daiane



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O(a) jovem que deseja tornar-se um(a) pesquisador(a) em História deve preparar-se para enfrentar um longo percurso.

O primeiro passo, naturalmente, é ingressar em um bom curso de graduação (há diversos rankings que facilitam a escolha). O bacharelado em História é uma etapa difícil: a visão frequentemente tradicional que se tem da História no ensino médio tende a ser “desconstruída” na universidade, o que costuma gerar crises epistemológicas nos(nas) jovens candidatos(as) a historiador(a). Sempre digo a meus(minhas) alunos(as) que o principal não é cumprir as disciplinas, mas integrar-se em grupos de pesquisas, fazer iniciação científica, atuar como monitor. Para mim foi muito importante aproximar-me dos(as) professores(as) que admirava, pedir orientação insistentemente: é muito comum que os(as) professores(as) universitários(as) sejam pouco demandados(as) e, por isso, acabam sendo mal aproveitados(as).

No final da graduação, é importante que a monografia de bacharelado seja bem escolhida. O primeiro exercício de pesquisa não pode ser aborrecido.

Há uma espécie de “taylorização” da formação do pesquisador: emenda-se o bacharelado no mestrado, feito rapidamente em dois anos, e logo se inicia o doutorado, às vezes até antes da defesa da dissertação de mestrado. Isso é ruim, já que nossa profissão exige amadurecimento, erudição, leituras, algo que demanda tempo. No passado, uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado podia ser feita ao longo de 5, 6 anos, ou muito mais. Mas não adianta pensar em termos ideais. Hoje há muita competição. Por exemplo: quando ingressei na carreira do magistério superior, em 1985, eu nem tinha o mestrado, era apenas um especialista (pós-graduação lato sensu). Comecei como “Professor Auxiliar”. Hoje em dia, nenhuma universidade contrata professores auxiliares porque, para atuar na pós-graduação, é preciso ser doutor e praticamente todos os departamentos têm cursos de pós-graduação.

Portanto, é preciso fazer o mestrado rapidamente, nos dois anos regulamentares, de preferência com uma bolsa do CNPq ou da CAPES, o que depende da classificação no processo de seleção. É essencial, portanto, fazer uma boa seleção. Isso resulta, em geral, de duas coisas: um bom projeto de pesquisa e, eventualmente, ter atuado na graduação do departamento em alguma iniciação científica. Um bom projeto de pesquisa é aquele que define com precisão um problema e indica a existência de fontes documentais interessantes. Um bom roteiro para a elaboração de projetos de pesquisa pode ser visto nos editais de seleção do meu programa de pós-graduação, o PPGHIS da UFRJ.

O mestrado é uma correria e, nesse sentido, até mais difícil do que o doutorado. O(a) aluno(a) vem da graduação, muitas vezes sem experiência de pesquisa e, em dois anos, tem de fazer uma dissertação. Como no primeiro ano é preciso cumprir, em geral, quatro disciplinas, a dissertação só é redigida mesmo no segundo ano.

No doutorado as coisas são mais tranquilas, em função da experiência adquirida e do prazo maior (quatro anos). O único problema é que você terá de fazer uma tese de doutorado! É um trabalho que pressupõe originalidade. O mais importante, entretanto, é ter em mente que a tese costuma “marcar” o autor: quando você fizer um concurso para tornar-se professor, por exemplo, é certo que sua tese será considerada.

Depois da tese, o passo final é a busca de um emprego. Muitos recém-doutores só vão se inserir no mercado nesse momento, tendo vivido de bolsas até então. É a realidade hoje em dia. Como disse, no passado, muitos professores se doutoravam depois de anos de atuação no magistério. Seja como for, há algumas alternativas. Uma delas é trabalhar como "Professor Recém-Doutor" em algum departamento ou programa de pós-graduação, algo que, em geral, depende de uma inserção prévia em grupos de pesquisa. Outra hipótese é se tornar "Professor Substituto" (dando aulas na graduação no lugar de um professor aposentado ou falecido antes do concurso para professor efetivo). O processo de seleção para professor substituto é mais simples do que o tradicional concurso de provas e títulos para professor efetivo.

O concurso para se tornar professor do magistério superior federal (efetivo) é bastante pesado. Há provas de aula, de arguição do currículo e escrita. Usualmente, são muitos os candidatos. Como já disse, em geral os concursos são para “Professor Adjunto”, isto é, aquele que já é doutor. Dificilmente se contrata um "Professor Auxiliar" (especialista) ou "Assistente" (mestre). Depois de oito anos, o Adjunto pode progredir para "Professor Associado". Para chegar ao último patamar da carreira, como “Professor Titular”, é preciso fazer outro concurso, que pode exigir uma tese ou uma conferência, dependendo da universidade.

Se tudo der certo, são quatro anos na graduação, dois no mestrado e quatro no doutorado, isto é, dez anos apenas para começar a carreira. Boa sorte! E paciência...

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Fonte: http://www.brasilrecente.com/2011/06/carreira-de-pesquisador-em-historia.html

quarta-feira, 1 de junho de 2011

III SEMHIS-UnB

III Seminário dos Estudantes de História

História do Tempo Presente - Autoritarismo, Democracia e Socialismo

2-3 Junho de 20111