domingo, 13 de maio de 2012

Depoimento: Bill, 10º semestre em 1º/2012 - História, UnB

Fui uma criança gorda, criado pela avó, pais divorciados, ambos desiludidos com a vida. Enquanto um encontrou conforto na bebida, o outro se entregou ao trabalho para se livrar da angústia. Ah sim, meus caros. Nem todos os pais divorciados pagam pensão e amam os filhos. Meus pais me odiavam. Eu era a lembrança viva dos seus sonhos perdidos. Havia algo errado com esse mundo.

E eu queria compreender esse mundo.

Por que alguns pais levavam seus filhos à escola? Por que nas novelas, até os mais pobres tinham no café da manhã, frutas, queijos, sucos e bolos? Perguntas aparentemente tolas assim, sufocavam-me, era uma tortura muito pior do que o bullyng que sofria por ser gordo num mundo de crianças magricelas de tanto jogar futebol.

Porque era uma tortura silenciosa, ruminante por ser solitária. Como resistir a uma tortura que não se sente? Que devora sua alma com pensamentos egoístas até deixar seu coração completamente  insensível a dor alheia? Fui uma criança perversa, fiz e desfiz coisas de que não me orgulho, mas que não me arrependo tampouco. Se fosse um contrito arrependido não teria chegado a História.

Não foi na escola que encontrei respostas. As escolas não falam dessas coisas terríveis que perturbam as mentes juvenis. Mas foi a escola que me deu a oportunidade de conhecer as pessoas que tinham alguns legos desse quebra-cabeça. Legos que não estavam com os professores. Desde então, tomo por axioma que as respostas não estão em instituições, mas nas pessoas. Descobri também que havia pessoas como eu, que tinham os mesmos anseios, as mesmas dúvidas, mas que faziam perguntas diferentes. Entendi que a resposta dependia da pergunta de uma maneira totalmente inédita para mim: Não existem respostas, somente perguntas. A grande questão não é fazer a pergunta correta, é perguntar. As respostas estão aí, é preciso tropeçar nelas.

E eu tropecei na História.

Contradições. Feridas. Dor. Inquietações. A História nos livros didáticos, contava uma única e incontestável verdade. Já então eu tinha o pressuposto de que não havia uma verdade, mas perguntas a serem feitas.

Ah, e eu sempre gostei de ler também.