segunda-feira, 2 de maio de 2011

Americanos elegíacos sentimentos (aproximação a um poema de Gregory Corso* em memória de Kerouac

Vou por aqui, agora na ordem certa. E em homenagem ao Tempo dos Assassinos e à Morte da República continuada por Obama. Que agora tem que escolher entre: a. ser mais um dos mentirosos estilo docs do pentágono, watergate, bush decretando 10 anos o fim da guerra (invasão) ao Iraque, um autor de uma Teoria da Conspiração Imperial sobre um terrorista jogado no mar que, ao contrário das expectativas, causou com sua morte um aprofundamento do Estado de Terror; ou b. ser um criminoso de guerra, contrariar todas as convenções e tratados, mesmo que não assinados por seu país, ao autorizar e assistir ao vivo a invasão de uma residência de um país estrangeiro nem sequer em guerra pelo exército americano assassinando civis e depois jogando o corpo do morto no mar não importa quão criminoso. e pensar que os versos e a poética libertária de Walt Whitman foram manchados e reciclados ao contrário virando lixo na posse desse tirano boçal por uma poeta de quinta categoria que fez um pastiche vagabundo

Gregory Corso
Elegiac feelings american

Americanos elegíacos sentimentos
Tomando muita liberdade face ao literal pra dar conta dos jogos de palavras e sintaxe
Notas: beat: apanhar da vida. Bitter: amargo.
Foundling fathers.
How: howl.
À querida memória de Jack Kerouac

1.
Como são inseparáveis você e a América que você viu apesar de nunca estar ali pra ser vista; você e América, como a árvore e o chão, são um e o mesmo; mesmo que como uma palmeira no Oregon... morta assim que floresce, como um urso polar em acrobacias no Miami –
Como assim aquilo que você foi ou esperava ser, e a América não, a América que você viu e ainda assim não podia ver
Tal como e ainda assim incomum no chão de onde você brotou; você de pé sobre a América como uma árvore sem raiz e sem rumo; pra o esquilo não havia divórcio entre o pulo do chão e a escalada na árvore... até que ele viu nenhuma semente cair e soube que não havia casamento entre os dois; como é infrutífera, como é inútil, a triste desnaturada natureza; não espanta que o pôr-do-sol tenha deixado de ser deleite... já que de que valem terra e sol quando a árvore entre eles é inválida... a inseparável trindade, uma vez sem serventia, torna-se uma fria infrutífera insignificante mortementira triplamente marcada em sua horrível amputação... Oh açougueiro a costeleta não é o porco – O Americano alienígena na América é amargo desmembramento; e mesmo sua elegia, querido Jack, devia ter uma árvore retalhada, prensada até a celulose, que a conterá – não espanta que boas novas não possam ser escritas sobre essas más novas –
Como é alienígena a terra natal, como a árvore morre quando o chão é estrangeiro, frio, não livre – O vento não sabe soprar a semente da Sequóia em que ninguém nunca esteve ; nenhuma palmeira é soprada ao Oregon, que sábio o vento – Sábio tanto quanto os mensageiros do profeta... sabendo da fertilidade do tal lugar em que a dita profecia foi anunciada e poderia ser respondida – o semeador de trigo não semeia nos campos de cana; já que o semeador de voz também semeia o ouvido. E fosse o pequeno Liechtenstein ao invés de América, a designação... certamente então seríamos a língua de Liechtenstein –
Não foi tanto a gente descobrindo a América quanto a América descobrindo sua voz em nós; muitos discursavam pra América como se a América lhes pertencesse por usucapião, crédito, direito e lei juridicamente adquirida por meio de golpes materialísticos de prosperidade e herança; como o cidadão de uma sociedade acredita ser o dono da sociedade, e o que ele faz de si mesmo ele faz da América e assim quando ele fala de si ele fala da América e dessa forma outro ele é eleito pra representar o que ele representa... um ego infernal de uma América
Assim quantos patriotas discursam amorosamente sobre si mesmos quando discursam sobre a América, e não apreciá-los é não apreciar a América e vice-versa
A língua da verdade é a verdadeira língua da América, e não poderia ser encontrada no Daily Heralds já que a voz dali é uma voz controlada, amaldiçoadamente opinativa, e dirigida ao crédulo
Não espanta que nós nos tenhamos descoberto desenraizados, porque nós nos tornamos as próprias raízes, - a mentira jamais enraíza e dali cresce sob a verdade do sol e alcança o fruto da verdade
Taí Jack, eu não posso fazer o seu réquiem sem fazer o réquiem da América, e este é um réquiem que não me cabe antecipar, porque enquanto eu for vivo não existirão réquiens pra mim
Porque se a árvore morre a árvore nasce novamente, só depois que a árvore morrer pra sempre e nunca outra árvore nova nascer... então o solo morrerá também
Seus os olhos que viram, o coração que sentiu, a voz que cantou e lamentou; e enquanto a América viver, mesmo que seu corpo tenha morrido meu velho Kerouac, você viverá... porque de fato o nosso é o tempo da profecia sem a morte como conseqüência... porque de fato depois do nosso veio o tempo dos assassinos, e quem duvidará de suas últimas palavras “depois de mim... o Dilúvio”
Ah, mas se fosse questão de estações eu não duvidaria do retorno da árvore, se não pra que o solo que nos sustenta sendo ele incapaz de sustentar – é, a árvore vai cair quando for esta a estação, pois assim é o hábito da natureza, é assim que o solo, a queda, a lenta mas certa decomposição, até que a própria árvore se torna o próprio solo que a sustentou; depois que caia o solo... ah, e depois o quê? Isso não pode ser respondido na natureza, pois não haverá outro solo onde cair e repousar, nem queda, nem ascensão, nada crescerá, sem direção, e no que, por que, se a composição chegar à sua própria decomposição?
Nós viemos pra anunciar o espírito humano em nome da verdade e da beleza; agora esse mesmo espírito clama no lugar da natureza pelo horrível desequilíbrio de todas as coisas natural... esquiva natureza capturada! Como um pássaro na mão, aproveitado e remanufaturado nos moldes involutivos da técnica e do experimento
Pois é apesar de a árvore ter enraizado no solo o solo é revirado e nesse vômito forçado o terrível miasma das árvores fossilizadas da morte os restos milenares e a graxa de dinossauros mortos a eras são expelidos e espalhados trazidos novamente à superfície e avançam no céu e nós o respiramos em acúmulos de poluição
Que esperança pra América incorporada em ti, Amigo, quando o mesmo álcool que desencarnou o seu irmão pele-vermelha da sua América, desencarnou você – uma armação pra agarrar a terra deles, nós sabemos – ainda assim que armação pra agarrar a inagarrável terra do espírito de alguém? A Tua América visionária era impossível de ser visualizada – porque quando as sombras das janelas do espírito caem, aquilo que foi visto ainda permanece... os olhos do espírito ainda vêem
É, a América incorporada em ti, tão definitivamente enraizada assim, é a incorporação viva de toda a humanidade, jovem e livre
E sempre que a árvore redentora floresça, mesmo que não plenamente, mesmo que não com certeza, lá estarão os entrevados, velhos e tristes, que gostarão de fazê-la cair: eles cortam, retalham, atiram pra longe... que nada jovem e livre se sustente de qualquer maneira
Na verdade essas árvores eram como a juventude é... fossem tais árvores feitas pra cair, e não mais nascer pra crescer novamente, então o chão deveria cair, e o dilúvio chegar e inundar tudo, purificar tudo e todos pra sempre, como um vento vindo de lugar nenhum pra lugar algum

2.
“Como Clark Gable segura firme tuas mãos...” (conversa no México em 1956) – Mãos tão fortes e ensolaradas de México, ocupadas com a América, mãos que eu sabia iriam fazê-lo, iriam tomar conta e acariciar
Você estava sempre falando da América, e América sempre foi história pra mim, General Wolfe deitado no chão morrendo em sua farda vermelha brilhante amparado por alguém de farda azul pendurado na parede da sala de aula ao lado do pai da nação cujo peito estava sombreado na pintura... sim, a nossa foi uma História Americana, história com futuro, é claro;
Como um Whitman nós estávamos buscando, esperando por uma América, aquela América sempre uma América ainda em vir-a-ser, nunca uma América para ser cantada ou uma América para ouvir nosso canto, mas sempre uma América pela qual clamar cheio de esperança
Tudo o que nós tivemos foi a América passada, e nós mesmos, a América agora, e ah como nós guardávamos aquele passado! E Ah a grande mentira daquela sala de aula! A Guerra da Revolução... tudo o que nós tínhamos era Washington, Revere, Henry, Hamilton, Jefferson e Franklin... nunca Nat Bacon, Sam Adams, Paine... e a liberdade? Não foi pra conquistar a liberdade aquela guerra, liberdade eles tinham, eles eram os homens mais livres do seu tempo; foi para não perder aquela liberdade que eles pegaram em armas – ainda assim, e ainda assim, a estação em que nós florescemos para a cena era escassamente livre; há liberdade hoje? Não pra escutar o que o índio, o negro, o jovem têm a dizer
E no começo quando liberdade era tudo o que alguém podia escutar; não foi bem assim pras pobres bruxas de Salem; e aquele imenso entusiasta de liberdade, Franklin, pagou bondosamente100 dólares por cada escalpo de criança selvagem nascida livre; Pitt Jr conseguiu boa parte da cidade do amor fraterno por meio do ultraje ofensivo ao abandonar o coração confiante de seu irmão pele-vermelha com tortuosa trairagem; e como ignorava a liberdade o sábio Jefferson proprietário de negros que perderam a liberdade; pra os declaradores da Independência declará-la apenas para uma parte do todo era declarar a guerra civil
Justiça é tudo o que um homem da liberdade precisa esperar por; e justiça foi uma coisa extremamente importante pelos pais afundada; um diadema pra vida Americana sobre o qual podiam se estabelecer os gêmeos Deus e propriedade privada;
Como o pobre Americano nativo sofreu pela estabelecimento forçado daqueles dois pilares da liberdade!
Da Justiça brota um Deus inconstante; de Deus brota uma justiça ditada
“Os caminhos de Deus levam à liberdade” disse São Paulo... ainda assim é o homem que precisa da liberdade, e não Deus, pra ser capaz de seguir os caminhos de Deus
O justo direito do indivíduo à propriedade de seu pedaço de chão não se justifica para aqueles a quem a terra pertencia coletivamente em primeiro lugar;
Aquele que vende a terra da humanidade a um único homem vende a Ponte do Brooklyn,
A segunda maior causa de mortalidade humana... é a aquisição de propriedade
Nenhuma vida Americana vale um hectare da América... se Proibido Entrar ou cães de guarda não te convencerem uma arma de fogo o fará
E daí, doce buscador, que América buscou você então? Saiba que hoje existem milhões de americanos buscando a América... saiba que mesmo com toda essa química que expande os olhos – só mais do que não está lá eles vêem
Alguns encontram a América nas canções das pedras aglomeradas, outros na névoa da revolução
Todos a encontram em seus corações... e Ah como ela aperta o coração
Não é tanto suas existências aprisionadas numa velha e insuportável América... mais a América aprisionada neles – que dilacera e obscurece o espírito
Uma nunca vista América, sonhada, incerta em tremores, vagabunda o coração, envia más vibrações adiante cósmica e ao contrário
Você poderia ver o desprezo em seus tristes olhos jovens, e enquanto isso as prisões estão virando barbearias, e o exército sempre foi
Contudo inábeis eles são pra aparar o furacão de seus olhos
Mira até Moisés, nenhum profeta jamais alcançou o prometido das terras... ah mas teus olhos estão mortos... e nem a América para além de sua derradeira sonhada colina na real paira

3.
Como se parecem nossos corações e tempo e morte, como nossa América lá fora e dentro de nossos corações insaciável e ainda assim transbordando aleluias de poesia e esperança
Como a gente sabia sentir cada pôr-do-sol, e Oh e Ah uivo pra cada tristeza dourada e desamparo de costa a costa em nossa busca por qualquer alegria inabalável nunca lá e agorassempre cinza
Sim a América a América imaculada e jamais revolucionada para a liberdade e sempre em nós livre, a América em nós - desfronteirada e a-historicizada, nós a América, nós os pais daquela América, a América que você Johnnyappleseedou, a América que eu anunciei, uma América nunca lá, uma América prestes a ser
O profeta afeta o estado e o estado afeta o profeta – o que aconteceu com você, Oh amigo, aconteceu com a América – a mancha... as manchas
E ah quando se pergunta sobre você “o que aconteceu com ele?” Eu digo “Aconteceu com ele o que aconteceu na América – os dois eram inseparáveis” como o vento para o céu é a voz para a palavra...
E agora aquela voz se foi, e aquela palavra é foice, e a América desfaz-se, o planeta fossiliza
Um homem pode ter tudo o que quer dentro de casa e ainda assim não ter nenhuma onda pra curtir do lado de fora da porta – pra um homem sensível, um homem poeta, tal fora só serve pra fazer de sua casa um lugar onde alguém mergulha na ressaca fiz isso por causa do hang oneself
E quanto a nós, querido amigo, nós sempre trouxemos a América pra dentro de casa – e jamais como roupa suja, mesmo com todas as manchas
E pela porta da frente, carinhosamente aninhada em nossos corações; onde nós sentávamos e desenvolvíamos nossos sonhos de beleza na esperança de que ela tornaria belo o nosso ninho
E o que aconteceu com o nosso sonho (beauteous: beat) de América embelezada, Jack?
Pareceu bonito a você, soou assim tão bem, em seu frio elétrico blues, aquela América que vomitou e empesteou sua casa, seu cérebro bom, aquela irreal falsa América, aquela caricatura de América, que ligou a América num muro... um galão de uísque desesperado te levou um dia a olhar aquela América em seu olho incorpóreo
E ela não te viu, ela nunca viu você, porque o que você viu não estava lá, o que você viu foi besteirol na tv, e toda a América estava nessa de bobeira, aquela América que emburrou você, emburrou a América, tudo aquilo emburrado, (brought you in), tudo aquilo em lugar algum sem conteúdo, não surpreende que você tenha sido solitário, morreu vazio e triste e sozinho, você a voz e a face na real... capturado nas ondas da falsa voz e da face falsa – que se tornou real e você falsificado,
Oh a terrível fragilidade das coisas
“O que aconteceu com ele?” “O que aconteceu contigo?” A morte foi o acontecimento; uma vida desenganada aconteceu; um Deus adoecido aconteceu; um sonho em pesadelo; uma juventude militarizada; militares massacrados; o pai quer devorar o filho, o filho usado como lenha pra acender a pira, (the son feeds his Stone, but the father no get stoned), mas o pai nada de pirar
E você Jack, pobre Jack, viu seu pai morrer, sua América morrer, seu Deus morrer, seu corpo morrer, morrer morrer morrer; e hoje os pais assistem seus filhos a morrer, e seus filhos assistem bebês a morrer, por quê? Por quê? Como nós dois perguntamos POR QUÊ?
Ah a horrível triste tristeza disso tudo
Você nada além de uma década Kerouac, mas quanta vida naqueles dez Kerouac!
Nada aconteceu a você que não tenha acontecido; nada ficou incompleto; você circulou por todo o ciclo, e o que está acontecendo com a América não mais acontece com você, porque o que acontece com a consciência de uma terra também acontece com a voz daquela consciência e a voz está morta ainda que a terra perdure pra esquecer o que escutou e da palavra não resta um osso
E tanto a palavra quanto o solo de carne e terra sofrem a mesma doença e a mesma morte... e morre a voz antes da carne, e o vento sopra um silêncio mortal sobre a terra moribunda, e a terra vai olvidar sua ossada, e nada de vento pra soar o gemido, só silêncio, silêncio, e nem mesmo o ouvido de Deus pra escutar
É, o que aconteceu com você, querido amigo, compassivo amigo, é o que está mudando todos e tudo no planeta o clamorosamente triste desesperado planeta agora com uma voz a menos... expansiva como o vento... partida, e agora quem vai soprar pra longe o terrível miasma da doença, doentia e moribunda em carne e terra a alma da América
Quando você pôs o pé na estrada à procura da América você encontrou somente o que você mesmo viu nela e um homem à procura de ouro encontra a única América que há pra encontrar; e este investimento e o investimento de um poeta... dá no mesmo quando vem a quebradeira, e estamos quebrando, no entanto as janelas são apertadas, não dá pra pular; do inferno ninguém jamais caiu

4.
No inferno os réus anjos também cantam (in Hell angels sing)
E cantaram para manter renovados
Os que seguiram quem carregou Cristo menino nos ombros
Abandonaram o inferno e contemplaram um mundo novo
Contudo com armas e bíblias eles vieram
E cedo sua morada nova envelheceu
E mais uma vez o inferno aportou.

O Arcanjo Rafael eu era pra você
E eu pus a cruz do Senhor dos Anjos
Em você... ali
No limite de um mundo novo a explorar
E você foi lampejo sobre um velho e escuro dia
Um beat criança-Cristo... com a gentil circularidade das coisas sobre os ombros
Insistindo que a alma é circular e não quadrada
E então... depois de ti
Seguiram os teus passos
Os filhos das flores.