terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Mito da imparcialidade: Israel, terrorismo e a imprensa*

Não há como não comentar a forma extremamente falaciosa com que a imprensa brasileira noticiou o ataque da força aérea israelense à Faixa de Gaza, em 1.º de março de 2008, quando morreram cerca de oitenta pessoas, segundo a BBC. A atitude da imprensa brasileira sustentou as acusações da comunidade árabe de que a máxima: "árabes atacam e Israel responde" não são resultados de especulações sensacionalistas e vazias. Sem correspondentes fixos, com excessão da "base" em Nova York onde se abastecem, quando algum fato exige, com reportagens enviadas por agências internacionais como a Reuters e Associated Press, a imprensa brasileira limita-se a reproduzir notícias tão carregadas de parcialidade que chega a ser constrangedor. Das duas, uma: ou esses grandes veículos estão realmente desinformados, ou querem desinformar propositalmente.

Naquele mesmo dia, o âncora do Jornal da Band apresentava a notícia "Israel ataca a Faixa de Gaza e mata mais de cinqüenta palestinos". A Rede Bandeirantes pertence a Johnny Saad, neto de imigrantes árabes. Na Rede Globo, o Jornal Nacional anunciou às 20h30 que "Israel ataca a Faixa de Gaza e mata mais de cinqüenta palestinos em resposta aos ataques com foguetes do Hamas". O jornalismo da Globo seguiu a orientação das agências internacionais, certamente embutida em sua linha editorial, caso contrário não seria aprovada. Além da redução do número de vítimas para setenta, em relação à BBC, a Folha de S.Paulo também não escapou do padrão internacional no dia seguinte, 2 de março. O título saiu assim: "Ofensiva é uma retaliação aos ataques com foguetes". Em outra reportagem, agora no Portal G1: "Israel expulsa militantes pró-palestinos". Pode parecer normal, se não fosse um detalhe: militantes palestinos é como o portal costuma chamar os integrantes de grupos “terroristas”, e não de ativistas humanitários. Não acredite em mim, faça uma busca no G1 e comprove, como bem mostra a reportagem de 25/05 intitulada: "Israel bombardeia Gaza após ataques de foguetes de militantes palestinos". Ou seja, uma resposta ao terrorismo palestino. Israel apenas cumpriu seu papel de guardião da paz nos territórios ocupados.

Primeiramente, deve-se notar o uso incorreto de certas palavras nas notícias. Os ativistas não foram detidos, como disseram o G1 e O Globo, nem mesmo foram presos já que estavam em águas internacionais, e a marinha israelense não tem qualquer jurisdição lá. Então, os ativistas foram SEQÜESTRADOS, seria a palavra mais correta. Pelo simples fato do serviço sujo ter sido feito por uma força militar legal e constituída (apoiada pelos EUA) parece que existe uma certa amenização no tocante a verdade. Mais: os objetos dos ativistas foram roubados, já que não existia autorização legal para os israelenses a levarem. Os navios não estavam em águas israelenses, e como Israel tomou a dianteira, se tornou o criminoso da história. Também não existiu deportação. Deportar é quando alguém entra no seu país ilegalmente, e você o expulsa. Os ativistas foram postos em liberdade.


Não é uma simples questão de incluir os sempre proibidos (pelos defensores da inexistente imparcialidade jornalística) adjetivos, mas sim de usar termos incorretos para dar um panorama diferente do verdadeiro. Eu mesmo sou a favor do alinhamento de veículos jornalísticos com idéias, sejam elas políticas ou libertárias, assim como a própria História deve ser, desde que se faça isso de forma clara, séria e nunca deixando de se ater aos fatos.

O Globo, por exemplo, publicou uma matéria intitulada: Soldados Israelenses são atacados por supostos ativistas. Creio estar certo ao dizer que autodefesa é um ato para remediar um ataque que está sendo efetuado. Agora me pergunto: que ataque é esse em que os ativistas fizeram aos militares israelenses, sendo que o foi o navio deles que estava sendo invadido em águas internacionais? O ataque e o posterior massacre dos israelenses foi um ato criminoso, e desta maneira, a defesa por parte dos ativistas com o que tinham em mãos foi legítima. Se um ladrão tenta roubar seu carro, e você o espanca, o ladrão está correto? Se está correto eu não sei, mas que é uma reação perfeitamente previsível isso é. Fora que esses mesmos veículos não se fixaram em perguntar o que rolou antes dos espancamentos, já que os vídeos foram oficiais de Israel, e tiveram seus inícios cortados.

Tudo é mascarado pela bandeira da imparcialidade. Os israelenses não são tratados como invasores, mas colonos. Israel não ataca, mas se defende. Quando os palestinos atacam ou se defendem nos territórios em litígio, eles são julgados pela imprensa como assassinos de colonos judeus, enquanto soldados israelenses matam terroristas. O professor Holdorf comenta: "(...) as diferenças semânticas expostas pela imprensa comprometem a imagem de um ou outro lado do conflito." O que claramente favorece Israel, pois o assassinato é premeditado, uma ação humana contra o semelhante. Já o verbo matar não ressuscita ninguém, mas suaviza as atitudes. Pode denotar autodefesa.

Mas, logicamente que houve violência. Os ativistas realmente deram uma boa surra nos soldados armados com pedaços de pau, chinelos e sacolas de alimentos contra metralhadoras snipers. Os números não mentem: um soldado de Israel ferido, e 10 ativistas assassinados + 30 feridos.
Israel declarou a Faixa de Gaza como "território inimigo" em agosto de 2007, oito meses depois de o grupo radical Hamas ter vencido as eleições parlamentares na região autônoma palestina. O objetivo era aumentar a pressão para que o Hamas cessasse os disparos de foguetes, quase que diários, contra o território israelense. Outra medida foi a interrupção de energia elétrica e de bens de luxo para quase 1,5 milhões de habitantes. Em 2008, Israel fechou a fronteira com a Faixa de Gaza e interrompeu o abastecimento de combustível. Somente suprimentos de ajuda humanitária podem ser importados e a entrada de matéria-prima no país é proibida.




* Bill, estudante de História da Universidade de Brasília

Um comentário: