quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Anacronismo: a mordaça, a venda e o papel higiênico do historiador

Como todo bom contador de histórias, vou começar pelo final do título. O título é uma brincadeira com um jogo de palavras orbitando em volta do anacronismo e do historiador.
O papel higiênico do historiador seria uma de suas funções para com o anacronismo, isto é, higienizá-lo, depurá-lo de suas boçalidades e cinismos. Ora, mas porque encarar algo tão caro ao historiador como o anacronismo como uma coisa tão perversa? Este é o cerne da questão. Nem tudo que o homem constrói o faz com índole má. O anacronismo surgiu para ajudar os historiadores a olhar para o passado, alertá-lo de que o seu “eu” é diferente do objeto. Seja um personagem histórico, seja um período como um todo, o anacronismo possibilita ao historiador reconhecer seus limites, o quão distante ele pode estar da verdade de qualquer acontecimento passado. Mas a utilização que os historiadores fazem do anacronismo hoje diferem em muito desse ideal.
Lembro-me da minha primeira aula de História que tive na UnB. Todos os alunos sentados, meio rígidos de ansiedade ou porque não estavam acostumados com as cadeiras do ensino público. Atentos, ou melhor, hipnotizados por aquela figura que se posiciona no fim da sala, sorvendo cada palavra do professor. Lá pelas tantas alguém ousa levantar a mão. A resposta? Não poderia ser outra se não: você está incorrendo num erro comum aos que estão começando a estudar História, respondeu o professor. Era o tal anacronismo, embora o professor não tivesse nomeado o erro. Ser anacrônico é o maior pecado que um historiador pode cometer, falar dele é sinal de sabedoria, nomeá-lo é uma blasfêmia. Quando a aula acabou percebi que alguma coisa naquilo me incomodou. Ora, antes do professor explicar eu não havia concordado com o questionamento do garoto? Havia, e de acordo com o professor eu estava pensando do jeito errado. ”Nós nunca poderemos entender o que eles realmente queriam dizer” – lembro-me exatamente de suas palavras. Sim, algo me incomodava e ia crescendo a medida que eu pensava no assunto.
“Nós nunca poderemos entender o que eles realmente queriam dizer”
O professor falou da imensa distância temporal que nos separava. Certo. E eu concordo com isso então por que eu me sentia como se minhas costas estivessem coçando num lugar que eu não conseguia alcançar?
A resposta veio em outra aula algum tempo depois, quando uma situação como aquela se repetiu, mas dessa vez o professor em questão conseguiu esmiuçar mais um pouco a respeito do “erro comum”. Um estalo, parecia desenho animado com uma lâmpada acendendo sobre minha cabeça. Ora, se nunca poderemos entender o que realmente eles queriam dizer, então o que estamos fazendo aqui? Não é justamente entender o que eles queriam dizer de fato? A resposta é tão irônica e safada que não posso deixar de esboçar um sorriso enquanto escrevo. Em outras palavras o que o professor da minha primeira aula quis dizer foi o seguinte:
“Embora nós nunca possamos entender o que eles realmente queriam dizer, se fosse possível, eu estaria muito mais perto de conseguir isso do que vocês”
De fato, estou sorrindo agora. Obviamente, o professor não diria algo assim abertamente, mesmo porque às vezes a coisa está tão entranhada que ele nem se apercebe disso. A questão é que a resposta não está – a meu ver – errada em qualquer dos sentidos mencionados, há não ser por um problema de implicidade.
Acredito mesmo que nós nunca poderemos entender o que “eles” queriam dizer, não em seu sentido absoluto pelo menos e também reconheço que pelos anos de estudo se pudéssemos fazer tal coisa seria o professor aquele que estaria provavelmente mais próximo disto.
provavelmente…
Há uma passagem em o Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams, que gostaria que vocês lessem:
“Um dia, um aluno encarregado de varrer o laboratório depois de uma festa particularmente ruim, desenvolveu o seguinte raciocínio:
Se uma tal máquina (gerador de improbabilidade infnita) é praticamente impossível, então logicamente se trata de uma improbabilidade finita. Assim, para criar um gerador de improbabilidade infinita é só calcular exatamente o quanto ele é improvável, alimentar esta cifra no gerador de improbabilidades finitas, dar-lhe uma xícara de chá pelando… e ligar!
Foi o que fez, e ficou surpreso ao descobrir que havia conseguido criar o ambicionado gerador de improbabilidade infinita a partir do nada.
Ficou ainda mais surpreso quando, logo após receber Prêmio da Extrema Engenhosidade concedido pelo Instituto Galáctico, ser linchado por uma multidão exaltada de físicos respeitáveis, que finalmente se deram conta de que a única coisa que eram realmente incapazes de suportar era um estudante metido a besta.”
Somos historiadores e em vez de complicados teoremas, trabalhamos normalmente com dicotomias como rupturas e continuidades. Ainda assim, apesar da diferenças, há pontos em comum que perpassam o ambiente acadêmico em si. Aquele apontado por esse texto é o da hierarquia do conhecimento. E para impedir que essa hierarquia seja desrespeitada os historiadores inventaram e/ou se apropriaram de um mecanismo muito eficaz: o Inominável Senhor dos Erros Históricos, anacronismo.
O anacronismo, e nós chegamos no meio do título, quando usado para a manutenção da Hierarquia do Conhecimento funciona como uma venda nos olhos dos historiadores iniciantes . Costuma embaçar a visão do historiador e impedi-lo de pensar por si mesmo. Por isto devemos recorrer aos Grandes Autores, Senhores do Conhecimento Que Quase Chegaram Lá Na Verdade Absoluta. Se pensamos algo diferente deles seremos execrados publicamente. Também, como pode um estudante estúpido contradizer um longo e detalhado estudo sobre os costumes romanos?
Gostaria agora de contar uma historinha dessas que nos mandam por e-mail.
Era uma vez numa praia, um garoto correndo pela areia, pegando as estrelas-do-mar e atirando-as de volta às águas. Nisto, um velho está sentado por ali há algum tempo, acompanhado o trabalho incansável do garoto. Ele levanta-se e vai até o menino.
“Ei rapaz! Venha, venha. Deixe-me falar contigo”
Quando o garoto se aproxima o velho diz:
“Não percebe o quão inútil é isto que está fazendo?”
O garoto pensa um pouco e responde:
“Não, o que é?”
“Jogue esta estrela-do-mar que está na sua mão e verá”
O garoto obedece e joga a estrela no mar. Eles ficam parados por um tempo e o menino olha intrigado para o velho que olha paciente para o mar.
Então, uma onda trás de uma vez só três estrelas-do-mar ao longo da praia.
“Vê? A cada uma que você atira de volta o mar traz outras três. Elogiável o seu esforço em ajudar as pobres criaturas, mas observe: o mar ao contrário de você, não se cansa nunca e continuará a trazer estrelas-do-mar independente do seu esforço. Entendeu? Não faz diferença.”
O velho lhe dirige um olhar bondoso quando o mar coloca uma estrela-do-mar bem aos pés do garoto. O garoto a pega e a atira de volta.
“Fez diferença para essa”
Por mais que nossa vida tenha nos ensinado muita coisa, sempre podemos aprender um pouco mais. O velho da historinha do alto de sua sabedoria tomou no dizer de um amigo meu: uma bela duma catracada. Não que ele estivesse errado veja só. O velho estava simplesmente olhando em outra direção. Enquanto mirava seus pensamentos na lógica da vida, o garoto que nada entendia de lógica olhou para a estrela-d0-mar.
Este é o verdadeiro anacronismo, aquele que nos impede de enxergar o outro, mesmo quando ele não está há mil anos de distância, mas bem aqui na nossa frente falando algo que você acredita ser absurdo, mas não dar sequer uma chance de realmente ouvir o que ele está dizendo. E aqui vamos para a última parte que na verdade é o início do título: o anacronismo como mordaça do historiador.
Quando conseguimos espiar por baixo da venda do anacronismo, ainda assim há um grilhão tão assustador quanto o segundo. A mordaça do anacronismo nos impede de emitir nossas opiniões.
Só recentemente consegui conversar seriamente com um amigo a respeito do comunismo. Isto porque eu tenho mania de dizer que Jesus foi um comunista. Esse amigo meu fica louco quando digo isso.
”Como você pode dizer uma coisa dessas?! A palavra comunismo está carregada de significados contemporâneos que são impossíveis de serem aplicados no passado”
Por causa do anacronismo até então ele nunca ouvira o que eu realmente tinha a dizer sobre o assunto. Era engraçado quando isso acontecia porque nós discutimos centenas de coisas triviais e minha opinião sempre é levada em conta. Menos quando discutimos sobre comunismo. Aí eu tenho que me calar porque sou anacrônico, isto é, burro. Quando falo de Cristo ser comunista, é porque enxergo semelhanças essenciais no que o comunismo traça como ideal de humanidade e nas coisas que Cristo dizia (ou pelos menos que dizem que esse tal de Cristo falou).
Certa vez um jovem interpelou Jesus e lhe pediu que lhe ensinasse o caminho para o Reino dos Céus. Jesus lhe disse que seguisse os mandamentos e amasse ao próximo como a si mesmo. Ao que o jovem responde:
Transcrição de parte do capítulo 19, em Mateus:
20. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?
21. Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
22. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.

23. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus .
24. E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.

Ora, pode haver algo mais comunista que isso? É o desejo latente pela igualdade. O olhar severo para com pessoas de muitas posses, não porque fossem pessoas más, mas simplesmente porque as coisas materiais não significam absolutamente nada na vida – leia-se Vida Eterna - do homem, mas mais que isso. E é aqui que está o comunismo: o homem está tão apegado às suas posses que pode escolhê-las a entrar no Reino dos Céus.
Como funciona o anacronismo aqui?
Comunismo foi um termo inventado por Marx. Jesus não viveu no tempo de Marx. Na Galiléia não havia indústrias e consequentemente não havia proletariado para fazer uma revolução e instaurar o socialismo, logo o comunismo é impraticável na época de Jesus, uma vez que segundo Marx, é preciso primeiro ter um regime socialista para se chegar ao comunismo.
É mais ou menos isso. Engraçado é que até mesmo quem odeia Marx sabe isso de có. Mas quem falou em Marx? Quem falou em indústrias, proletariado e socialismo? Querem atribuir um sentido às minhas palavras que não são minhas. Mas eu não tenho direito de pensar, Marx já pensou por mim. A partir de momento que o comunismo deixou os pensamentos de Marx , saltou sobre sua língua e atravessou por entre seus dentes o comunismo não mais o pertencia.
O bom anacronismo é capaz de identificar isso. Um dos pressupostos do anacronismo é que as palavras não permanecem imutáveis ao longo do tempo, elas são antes construções culturais de uma sociedade, e a sociedade é um organismo gigante e se eu posso acordar pensando numa coisa e dormir achando outra, imagine algo tão complexo como nossa civilização?
Os anacronistas fetichistas adoram acusar os marxistas de serem anacrônicos por não seguirem a linha do raciocínio de Marx. Imagine então pensar a sociedade hoje tal como Marx pensava há um século, quando é o próprio anacronismo que indica a reformulação dos conceitos.
Se o anacronismo então serve para me amordaçar, jogar-me num calabouço escuro e frio, sozinho, então eu prefiro limpar a bunda com ele.
Como todo bom contador de histórias eu comecei o título pelo fim, fui ao começo e tornei ao fim.


Bill, estudante do 7º semestre de História pela Universidade de Brasília.

domingo, 30 de janeiro de 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A liberdade não é a primeira a sair. Walt Whitman (do prefácio de Folhas da Relva).

"Quando a liberdade vai embora, ela não é a primeira nem a segunda ou a terceira a ir embora... ela espera que o resto parta primeiro... é a última a partir... Quando as memórias dos velhos mártires se apagarem totalmente... quando os grandes nomes dos patriotas forem ridicularizados em salas públicas pelos lábios dos oradores... quando não se derem mais aqueles nomes aos meninos e sim os nomes de tiranos e ditadores... quando as leis dos que são livres forem permitidas de má vontade e as leis dos dedos-duros e dos assassinos de aluguel se tornarem doces ao paladar do povo... quando eu e você passearmos lá fora sobre a terra afligidos de compaixão ao avistar inúmeros irmãos respondendo com igualdade à nossa amizade e sem chamar ninguém de mestre - e quando ficarmos exaltados com prazer nobre ao vermos escravos... quando a alma se retirar para a comunhão refrescante da noite e avaliar sua experiência e sentir imenso êxtase pela palavra e pelos atos que colocam uma pessoa impotente e inocente nas garras dos carrascos ou em qualquer posição de cruel inferioridade... quando aqueles em todas as partes destes estados que poderiam perceber o verdadeiro caráter americano mas ainda não o fazem - quando as pragas de puxa-sacos, sanguessugas, pusilânimes, parasita de políticos, planejadores de armações e dissimulados a favor de sua própria nomeação para cargos municipais ou legislaturas estaduais ou para o judiciário ou o congresso ou a presidência, obtiverem uma resposta de amor e complacência natural do povo quer consigam seus cargos quer não... quando for mais vantagem ser um imbecil decidido e um trapaceiro com cargo e um alto salário do que o mais pobre mecânico livre ou fazendeiro com o chapéu imóvel em sua cabeça e olhos firmes e um coração cândido e generoso... e quando o servilismo do município ou estado ou do governo federal ou qualquer opressão em larga ou pequena escala puder ser provada sem que sua punição siga em exata proporção contra a menor chance de escapar... ou então quando toda a vida e todas as almas de homens e mulheres forem banidos de todas as partes da terra - só então o instinto de liberdade terá sido banido daquela terra."

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Google para Historiadores


Empresa americana lança aplicativo que promete conquistar historiadores e pesquisadores de ciências humanas em geral. O que ele faz? Permite traçar tendências culturais e políticas nos últimos duzentos anos.

O Google Labs, inovadora seção de aplicativos protótipos do Google, lançou no último dia 16 de dezembro o "Google Books Ngram Viewer", uma ferramenta elegante e que pode em breve se tornar um verdadeiro aliado para pesquisadores, professores ou mesmo estudantes. O "Books Ngram Viewer" utiliza o banco de dados do "Google Books" (sistema de livros digitalizado online para consulta gratuita) para contar quantas vezes um mesmo nome, frase, termo, expressão ou conceito foi utilizado entre 1800 e 2000. Assim, com apenas alguns cliques é possível saber em menos de um segundo a trajetória de uma palavra ao longo de dois séculos de cultura escrita e descobrir um pouco mais sobre as tendências culturais, políticas e sociais de nosso tempo.

Em um primeiro momento, o Books Ngram Viewer (http://ngrams.googlelabs.com/) não chama muito a atenção dos internautas, hoje acostumados às dezenas cores, animações e outras pirotecnias que os grandes sites promovem para conquistar o público. Em sua tela, o internauta precisa preencher apenas três espaços: palavra(s), período e a língua a ser pesquisada. Depois, basta clicar em "Search lot of books". O sistema, então, irá consultar um banco de dados de mais de 500 bilhões de palavras, divididas entre 5 milhões de livros, publicados entre 1800 e 2008 e digitalizados pelo Google nos últimos anos. Essa consulta - que não leva mais do que dois segundos - gera um gráfico no qual é possível observar a evolução (ou involução) de uma palavra ao longo do tempo.

Essa simplicidade arrasadora é o suficiente para oferecer um mar de possibilidade de estudos. Atualmente, é possível consultar bancos de dados de livros em inglês, francês, espanhol, alemão, chinês e russo. Pode-se inserir uma ou mais palavras. Pode-se ainda comparar os resultados de uma palavra dentro do universo de livros em inglês e em chinês ou espanhol. Por exemplo: o grau de incidência da palavra "terrorism" dentro das publicações em inglês é muito diferente desta mesma palavra em outras línguas, mostrando o lugar que esta expressão tem na cultura americana.

Como tudo começou

O "Books Ngram Viewer" nasceu da necessidade de uma pesquisa acadêmica. Em 2004, Jean-Baptiste Michel e Lieberman Aiden, de Harvard, começaram uma pesquisa sobre verbos irregulares no inglês. Eles desejavam determinar quando formas verbais específicas deixaram de ser usadas em detrimento de outras, mais modernas. Na época, esse tipo de pesquisa implicava na leitura, página por página, de milhares de livros. O processo todo lhes custou longos 18 meses. Pouco mais de um ano depois, os acadêmicos de Harvard souberam dos planos do Google para digitalizar todos os livros do mundo, algo que foi parcialmente alcançado com o Google Books, que digitalizoiu 11% dos livros do mundo. Aquele parecia ser o tipo de tecnologia ideal para a pesquisa de Aiden e Michel e provavelmente para outros milhares de pesquisadores em todo o mundo. Assim, os dois entraram em contato com Peter Novig, diretor de pesquisa do Google. Novig logo percebeu a importância daquela idéia para a ciência e deu carta branca para os desenvolvedores. O Books Ngram Viewer é a versão mais acabada desta idéia e utiliza 4% do banco de dados do Google Books. A nova ferramenta foi lançada na última semana e descrita em um artigo intulado "Quantitative Analysis of Culture Using Millions of Digitized Books", publicado na revista Science (tiny.cc/td0rd). O Google Books Ngram Viewer utiliza um método de modelagem chamado N-gram, que possibilita buscas em sequências de linguagem natural. Para os pesquisadore envolvidos na criação, a ferramente significa a abertura de uma nova abordagem para os estudos culturais. Nos últimos dias, não se fala em outra coisa nos principais círculos das ciências humanas. A sensação é que algo revolucionário está sendo criado.

Historiadores

Para os historiadores, o programa desenvolvido pelo Google é uma ferramenta incrível de auxílio à pesquisa. Como bem se sabe, as palavras não são entidades estáticas, programadas para ter um começo, meio e fim. Mas pelo contrário: são vivas, políticas, sujeitas à ação dos homens em sociedade. E o Books Ngram Viewer mostra muito bem isso. Com ele torna-se possível identificar quais termos são mais sensíveis que outros, desvendar dimensões até então pouco abordadas da memória social e outros processos polítcos e sociais de diversos períodos históricos.

O Café História testou várias combinações. No clássico Brazil x Argentina, na língua inglesa, por exemplo, nós continuamos dando de goleada. O Brasil sempre foi muito mais citado do que o vizinho. No entanto, é curioso observar que tanto o crescimento quanto a queda das referências a ambos seguem o mesmo padrão. A década de 1940 representa o período de maior menção aos dois países, o que pode ser explicado pelo auge da cultua do American Way of Life e sua influência na América do Sul. Confira no gráfico abaixo:

Curioso também notar a trajetória de palavras caras à historiografia. É o caso do termo "holocaust", utilizado para se referir ao extermínio de seis milhões de judeus durante o Terceiro Reich (1933-1945). Segundo o Books Ngram Viewer, a palavra conheceu um verdadeiro boom na década de 1980, o que reforça decisivamente teses acadêmicas já existentes e que apontavam aquela década como um período de consolidação da memória do genocídio nazista. Para os historiadores, a década de 1980 testemunhou uma proliferação de filmes, museus e outros eventos memorialísticos que tiveram um grande impacto na representação do extermínio dos judeus no século pasado, sobretudo na produção de referências bibliográficas.

Esse processamento dos dados, que Lieberman chamou de "culturomics" ("cultorômica", em língua portuguesa), está ao alcance de todos. O site já está no ar, é gratuito e o melhor: pode ser baixado por qualquer usuário e explorado em detalhes, a partir de suas próprias ferramentas de busca. Além do Google e de Harvard, fazem parte da equipe de gerenciamento do Ngram pesquisadores da Enciclopédia Britânica e do Dicionário Americano Heritage. Confira o site sobre a recém-batizada "Culturômica": http://www.culturomics.org/

Enquanto isso, mesmo para os não-acadêmicos, o programa já diverte os meios de comunicação. O jornal OGLOBO fez um contraste entre "women" (mulher) e "man" (homem), descobrindo que o primeiro era raramente mencionado até o início dos anos 1970, momento em que o feminismo ganha força. A partir daquela década as duas linhas do gráfico movem em direções opostas até se encontrarem em 1986. Já o site Read Write Web fez uma série de 10 comparações, que você pode conferir clicandono seguinte link. Destaque para a comparação entre os meios de comunicação:

http://www.readwriteweb.com/archives/10_fascinating_word_graphs_fro....

Não perca tempo. Visite esta importante novidade na internet e faça uso dela para aprimorar suas pesquisas e estudos. A história vem passando por grandes transformações e você não precisa ser um mero espectador.


Fonte: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/arquivo-cafe-historia-google

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O mito da imparcialidade 2

A quem interessa a criminalização da pobreza?
Quem me conhece sabe da minha repulsa pela mídia nacional, logo eu não poderia deixar de me manifestar a respeito da cobertura feita da ocupação das favelas do Rio de Janeiro, Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão.

Rio contra o crime, diz a reportagem
Depois da ocupação das favelas do Complexo do Alemão, Renato Machado, do programa Bom Dia Brasil da Rede Globo, anunciava a ‘vitória’ da sociedade, um ‘dia histórico’ da vida dos cariocas. OK. Sem dúvida alguma é um alívio para boa parte dos cariocas saberem que o governo estadual tomou iniciativa quanto à questão do tráfico nos morros. Mas vamos às questões que passam a margem do debate que a televisão como um meio de comunicação de grande alcance poderia oferecer para informar e instruir a população brasileira sobre o que se passa de verdade, o que esse acontecimento significa, quais são suas causas e consequências, enfim, aprofundar as discussões. Não é isso o que se vê. Muito pelo contrário, a opinião que tenho a respeito é de que esses programas tentam desinformar propositalmente a fim de evitar questionamentos quanto a certas atitudes em nome da segurança pública.
Logo de cara podemos estranhar a dicotomia entre bem e mal apresentada. Os traficantes são maus não é mesmo? Nasceram em localidades miseráveis com os mais altos níveis de desemprego e escolaridade do estado do Rio de Janeiro. Seus espelhos de sucesso profissional eram os traficantes que desfilavam com carros importados. Diriam alguns que trabalho de verdade era o do seu pai, pedreiro, pois apesar de ganhar pouco, ganhava honestamente. Na opinião do garoto sem dúvida o pai trabalhava honestamente porque era imbecil covarde demais para tentar algo melhor. Olharia para você e diria inconvenientemente: Para você é fácil ser honesto. O que esse garoto, agora traficante, responderia quando perguntado se ele se considerava mau?

Quantos deles se tornarão traficantes?
Ou um policial do Rio de Janeiro que ganhando 600 reais tem que subir o morro para fazer cumprir a Lei. Esse policial sabe que lá em cima a Lei que ele conhece não vale nada. Essa “Lei” nunca subiu o morro e os favelados tiveram que inventar uma, não seria agora que eles iriam aceitar a nossa. O policial então vê seus amigos comprando apartamentos e carros novos. O que ele reponderia francamente a respeito de honestidade? Ele se consideraria uma pessoa má?
A essa última pergunta talvez o policial até dissesse que sim, mas que isso era irrelevante, pois que ele não tinha opção, pois bondade e mesmo honestidade não desviam balas nem alimentam bocas, que dirá pagar uma escola particular para o filho, comprar uma jóia para a mulher…

Quanto vale a minha vida?
O tráfico não teria prosperado no Rio não fosse a conivência dos policiais. Enquadrar essas pessoas em boas ou más é tão absurdo quanto separá-las em brancos e negros. As definições podem até servir para seus respectivos fins, mas não exprimem de forma alguma a profundidade do tema.
Um estudo do Núcleo de Pesquisa das Violências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Nupevi-Uerj), em parceria com o Laboratório de Estatística Aplicada da mesma instituição, divulgado no mês passado, apontou que 41,1% das favelas da cidade do Rio de Janeiro estavam sob o controle de grupos milicianos em 2008. Quase metade. Quem é mocinho ou bandido nessa história?

Ainda sem resposta: Quanto vale minha vida?
A mídia, basicamente falando daquela comandada pelos maiores grupos de comunicação como Organizações Globo e Grupo Abril, age de modo perverso, criminalizando a pobreza, dificultando que sua audiência tenha dados suficientes para formar uma opinião melhor construída, contribuindo para a formulação de diagnósticos falsos e premissas escusas e mesquinhas embasadas em seu ridículo conceito binário social.

Finalmente, a comunidade livre
Não podemos deixar de inferir ao final, de que essa conjuntura elaborada pela mídia nativa seja fruto de seus anseios particulares. É mais fácil exterminar os traficantes do que conseguir que seu filho pare de usar drogas. Tá, ok. Ele pode até continuar usando, mas essa droga virá de origem mais confiável pelo menos daqui por diante…

Jovens moradores de bairros nobres do Rio são presos por tráfico de drogas.

Bill, estudante do 7º semestre de História pela Universidade de Brasília.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010