sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nietzsche. Usos e desvantagens da história para a vida.

“Além disso, odeio tudo aquilo que somente me instrui sem aumentar ou estimular a minha atividade. Estas são as palavras de Goethe que poderiam dar início à nossa consideração sobre o valor e o não-valor dos estudos históricos. Pretendemos realmente expor nesta consideração a razão por que devemos, segundo a fórmula de Goethe, detestar profundamente a instrução que não estimula a vida, o saber que paralisa a atividade, os conhecimentos históricos que são somente um luxo dispendioso e supérfluo: porque aqui ainda nos falta o estritamente necessário e porque o supérfluo é inimigo do necessário. Certamente, temos necessidade da história, mas não temos necessidade dela do modo como tem o ocioso refinado dos jardins do saber, por mais que este olhe com altaneiro desdém os nossos infortúnios e as nossas privações prosaicas sem atrativo. Temos necessidade dela para viver e para agir; não para nos afastarmos comodamente da vida e da ação e ainda menos para enfeitar uma vida egoísta e ações desprezíveis e funestas. Não queremos servir à história, senão na medida em que ela sirva à vida.”

2 comentários:

  1. "Ah, essa pessoa deve ter pensado muito pouco para poder ter lido tanto! Até mesmo quando se relata, a respeito de Plínio, o Velho*, que ele lia sem parar ou mandava que lessem para ele(...), sinto a necessidade de me perguntar se o homem tinha tanta falta de pensamentos próprios que era preciso um afluxo contínuo de pensamentos alheios(...)." Schopenhauer

    No propósito por trás do conhecimento, tendo este como meio ou fim em si mesmo, acredito estar a importância ou desimportância do estudo da história. Em uma visão mais ampla, a história como fato seria o carro que nos levaria em uma viajem em busca do aprimoramento científico, a história como interpretação, já sendo, para um historiador, o estímulo à atividade, em um patamar elevado, ao enriquecimento independente dos conhecimentos de geral forma. No caso do "ruminante de informações", este pararia na "história como fato", ou, no "pensamento como consumo", entrando em um ciclo improdutivo à mercê daqueles que se intitulam eruditos, tais que de igual forma compraram e acumularam sumariamente conhecimentos milenares, imediatamente consumidos pelos abutres de pobre espírito, acomodados às verdades postas.

    *Gaius Plinius Secundus (23-79 d.C), mais conhecido como Plínio, o Velho, almirante romano, escritor e naturalista clássico.

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  2. Um adendo:

    "O que herdaste de teus pais,
    Adquire, para que o possua".

    Goethe, Fausto, Primeira parte, versos 686-687.

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