quarta-feira, 28 de julho de 2010

O elogio da traição

Essa música do Chico Buarque é parte da peça "Calabar: O elogio da traição". Escrita em 1973, alvo da censura da ditadura militar. A história é baseada na vida de Domingos Fernandes Calabar, um senhor de engenho que se aliou aos holandeses nas sangrentas batalhas (sobretudo na África) entre estes e os portugueses pelo domínio da rota colonial escravista. Calabar acabou entrando para a história como um traidor. O interessante na peça de Chico Buarque e Ruy Guerra é a sobreposição de diferentes camadas históricas. Ao relato colonial se superpõe a situação ditatorial da década de 1970. Ou seja, pelo menos duas histórias diferentes são contadas, simultaneamente, no texto teatral. Unindo, metaforicamente, Portugal do século XVII ao Brasil do século XX. A peça fala de autoritarismo, repressão e hipocrisia moral. Daí o "elogio da traição". É importante lembrar que o discurso da ditadura militar brasileira era extremamente patriótico, segundo o famoso dilema imposto do "Brasil, ame-o ou deixe-o". De acordo com este discurso, todos os que combatiam a ditadura eram considerados traidores da nação. A peça de Chico e Ruy Guerra inverte o sentido, sugerindo que a ética está do lado dos "traidores". As referências à ditadura no Brasil nem são tão subliminares assim, são dadas desde o início da música, na referência ao "primeiro abril" e à "mãe gentil", por exemplo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Seminário dos Estduantes de História

Local: Auditório do Instituto de Ciências Humanas – Campus Universitário Darcy Ribeiro, Instituto Central de Ciências, BSS-687

Data: sexta-feira 13 de agosto de 2010, a partir das 09 horas

Contato: semhis@unb.br

Inscrições até 12h do dia 13/08/2010 pela internet na página do evento.
Mais informações sobre o seminário:

http://scientia.cliomatica.com/index.php/semhis/semhis/index

segunda-feira, 19 de julho de 2010

História e Música III: O ROCK NO BRASIL

No Brasil o rock chegou na segunda metade dos anos de 1950.A primeira etapa o rock nacional era versões dos sucessos estrangeiros gravados por artistas como Celly Campelo. Na década de 60 surgiu a Jovem Guarda, com temáticas ligadas à classe média urbanas, tendo como oposição as correntes da MPB, um embate que se desenrolou no contexto da ditadura militar.

Com a Tropicália, de 1968, o rock passou por várias inovações e tomou uma forma mais brasileira, com a banda Os Mutantes por exemplo. Nos anos 70 viu-se a ascensão do rock progressivo de outros músicos, como Raul Seixas, que não seguiam essa linha. Também se desenvolveu o Punk que abriu vários caminhos para a efetivação do rock como produto nacional.

Os anos 80, no período da reabertura política e posterior governo de Sarney, o rock nacional teve o seu grande momento e as gravadoras investiram pesado na sua divulgação. O “rock de Brasília”, representado por Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, desenvolveu-se na classe média e teve influências do Punk e Pós-Punk, principalmente.

Essa representação ocidental do jovem (explicitada nos post anteriores), apropriada de acordo com cada região, passou por revisões, atualizações e rupturas no correr do tempo, já que cada época teve sua concepção sobre essa etapa da vida. Assim, nos próximos post passaremos à analise das músicas do grupo Legião Urbana, buscando identificar quais as representações sobre o jovem elas veiculam.

Essa banda iniciou-se na década de 1980 em Brasília, e era composta por filhos de funcionários públicos, diplomatas e professores universitários. Logo, os discursos que constroem partem de um lugar social específico: a classe média de Brasília, possuidora de certa facilidade de acesso à informação estrangeira e algum poder aquisitivo. Algumas outras peculiaridades da cidade concorrem para a conformação do rock brasiliense: a disposição urbanística da cidade em superquadras propiciou a formação de “galeras” e turmas e delas surgiu a banda Legião e inúmeras outras. É a partir desse cenário que as músicas foram produzidas e circularam inicialmente. Após o sucesso nacional esses discursos alcançaram outros circuitos sócio-culturais.

Amanda Camylla e Thiago Dornelles são alunos do quinto semestre de História na UnB

sábado, 17 de julho de 2010

Uma agressão à história

O Congresso Brasileiro está discutindo um novo Código do Processo Civil (Projeto de Lei nº 166), que foi apresentado ao Senado em 8/6/2010. Em total desrespeito ao direito de preservação da história e às regras arquivísticas mais elementares, o artigo 967 desse projeto vem reforçar a moda burocrática de limpar o passado. O texto restaura, na íntegra, o antigo artigo 1.215 do atual Código do Processo Civil, promulgado em 1973, que autorizava a eliminação completa dos autos findos e arquivados há mais de cinco anos, "por incineração, destruição mecânica ou por outro meio adequado". Em 1975, depois de ampla mobilização da comunidade nacional e internacional de historiadores e arquivistas, a vigência desse artigo foi suspensa pela Lei 6.246. Aprovada a atual proposta, estão novamente em risco milhares de processos cíveis: um prejuízo incalculável para a história do país, que já arca com perdas graves na área da Justiça do Trabalho, uma vez que a Lei 7.627, de 1987 (com o mesmo texto do artigo 967), tem autorizado a destruição de milhares de processos trabalhistas arquivados há mais de cinco anos. Além de grave agressão à História, a proposta também fere direitos constitucionais de acesso à informação e de produção de prova jurídica. Eis o texto do projeto de lei que está no Senado:

Art. 967. Os autos poderão ser eliminados por incineração, destruição mecânica ou por outro meio adequado, findo o prazo de cinco anos, contado da data do arquivamento, publicando-se previamente no órgão oficial e em jornal local, onde houver, aviso aos interessados, com o prazo de um mês.

§ 1º As partes e os interessados podem requerer, às suas expensas, o desentranhamento dos documentos que juntaram aos autos ou cópia total ou parcial do feito.

§ 2º Se, a juízo da autoridade competente, houver nos autos documentos de valor histórico, serão estes recolhidos ao arquivo público.



O link para acompanhar a tramitação do PLS nº 166 é o seguinte: http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=97249.

Um ataque à cidadania que exige defesa firme por parte de todos que lutam pela defesa da História e da Memória.



Fernando Teixeira da Silva (Arquivo Edgard Leuenroth - IFCH - UNICAMP)

Silvia Hunold Lara (CECULT - IFCH - UNICAMP)

Magda Barros Biavaschi (Fórum Nacional Permanente em Defesa da Memória da Justiça do Trabalho