Essa música do Chico Buarque é parte da peça "Calabar: O elogio da traição". Escrita em 1973, alvo da censura da ditadura militar. A história é baseada na vida de Domingos Fernandes Calabar, um senhor de engenho que se aliou aos holandeses nas sangrentas batalhas (sobretudo na África) entre estes e os portugueses pelo domínio da rota colonial escravista. Calabar acabou entrando para a história como um traidor. O interessante na peça de Chico Buarque e Ruy Guerra é a sobreposição de diferentes camadas históricas. Ao relato colonial se superpõe a situação ditatorial da década de 1970. Ou seja, pelo menos duas histórias diferentes são contadas, simultaneamente, no texto teatral. Unindo, metaforicamente, Portugal do século XVII ao Brasil do século XX. A peça fala de autoritarismo, repressão e hipocrisia moral. Daí o "elogio da traição". É importante lembrar que o discurso da ditadura militar brasileira era extremamente patriótico, segundo o famoso dilema imposto do "Brasil, ame-o ou deixe-o". De acordo com este discurso, todos os que combatiam a ditadura eram considerados traidores da nação. A peça de Chico e Ruy Guerra inverte o sentido, sugerindo que a ética está do lado dos "traidores". As referências à ditadura no Brasil nem são tão subliminares assim, são dadas desde o início da música, na referência ao "primeiro abril" e à "mãe gentil", por exemplo.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
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