Parece que se tem que escolher entre ser cientista ou ser-se historiador; entre acreditar na distinção verdadeiro-falso ou apresentar testemunhos; entre conhecer a natureza ou conhecer a história. Descartes pensa do mesmo modo: ‘Nunca conseguiremos ser filósofos se tivermos lido todas as argumentações de Platão e de Aristóteles sem sermos capazes de dar uma opinião segura acerca de um determinado problema: se assim for, demonstraremos que aprendemos não as ciências, mas a história’. A história é aquilo que já foi inventado e está exposto nos livros, a ciência é o talento para resolver problemas, é ‘a descoberta de tudo o que a mente humana pode descobrir’. Conversar com os homens de outros séculos - dirá ainda Descartes – ‘é quase o mesmo que viajar, [...] mas quando passamos demasiado tempo a viajar acabamos por nos tornar estrangeiros no nosso próprio país e assim, quem é demasiado curioso das coisas do passado torna-se, na maioria dos casos, muito ignorante das coisas do presente’. Também para Malebranche, os historiadores são homens que tendem para ‘as coisas raras e longínquas’ e ‘ignoram as verdades mais necessárias e belas’.
Paolo Rossi. O cientista in Rosário Villari. O Homem Barroco. Lisboa: Presença, 1995. (cap.X)
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