"Um Jornal para a História
O Jornal do Brasil deixou de circular no dia 31 de agosto de 2010, mas o seu acervo histórico continua vivo, disponível em sua quase totalidade para qualquer internauta
Depois de 119 anos de vida, muitos dos quais na vanguarda jornalística e na história do próprio país, o Jornal do Brasil deixou de circular em sua versão impressa no último dia 31 de agosto de 2010, conseqüência de anos de dívidas e problemas seguidos de gestão. Mas o Jornal do Brasil está longe de ser apagado da memória. E não, não estamos nos referindo à versão online do jornal, hoje a única existência do que um dia foi o JB, mas sim ao arquivo histórico do jornal, totalmente digitalizado e disponível gratuitamente para a sua consulta.
Há alguns meses, está disponível na internet quase toda a coleção do Jornal do Brasil: de 1891 aos dias de hoje. O projeto de digitalização do arquivo histórico do jornal foi executado pelo Google, através de um acordo anunciado ainda no ano de 2008. A parceria levou para a internet mais de 17.608 de edições do jornal, muitas das quais a história do Brasil seria contada de uma maneira mais pobre.
O Jornal do Brasil foi um dos mais importantes jornais brasileiros no século XX. Embora pertencente ao Rio de Janeiro, o jornal rapidamente passou a fazer parte da vida nacional. Em seus primeiros anos, ainda no final do século XIX, defendeu a monarquia e foi utilizado como instrumento de crítica à República brasileira recém-instalada por seus fundadores, Joaquim Nabuco e Rodolfo Dantas. No início do século XX, passou para uma fase de oposição republicana e ajudou a implantar no país uma linha de jornalismo profissional. Nos anos 1950, ajudou a reformular o jornalismo brasileiro nos âmbitos estéticos e editoriais. Cobriu importantes acontecimentos da sociedade brasileira. Em algumas de suas criações, como um caderno de cultura, o Caderno B, propôs uma nova maneira de se pensar a cultura no país e ditou moda na imprensa brasileira, que passou a se dedicar também a cobertura da cultura e não apenas da política ou economia.
Na internet, o acervo está quase completo e é facilmente manuseado. Acessando o site http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC o internauta encontra o jornal dividido por décadas. Para fazer buscas, é possível escolher ainda entre ano, mês, semana e dia. Para acessar uma edição, basta clicar nas imagens e, em seguida, na matéria. É possível ler cada edição página a página. O único problema são algumas edições faltando e um sistema de buscas ainda não muito bem desenvolvido. No entanto, o projeto é pioneiro e promete ajudar bastante os pesquisadores da imprensa no Brasil e no mundo. Então, passe o café e leia essas páginas substanciais da história do Brasil moderno, pois na internet, esse grande patrimônio histórico brasileiro ainda está de pé. É memória ainda viva."
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
sábado, 25 de setembro de 2010
Programação da ANPUH-DF
Só uma observação: no Simpósio 2: Ensino de História na cidade capital. Coordenadoras: Edlene Oliveira Silva e Susane Rodrigues de Oliveira [local: Sala de projetos especiais do HIS, às 9:00], vou fazer uma apresentação sobre a relação entre internet e ensino de história, principalmente a partir da experiência com o blog. Não vai ser uma comemoração, ou um auto-elogio. Pelo contrário, quero pensar nos limites e possibilidades do uso da internet, que tem sua lógica própria, bem diferente do funcionamento da sala de aula. A internet tende a diluir os lugares estabelecidos da autoridade, e por isso é tão libertária e ao mesmo tempo dispersiva. Na relação com o ensino, em geral, a internet se torna apenas uma espécie de complemento, apoio à sala de aula. Mas, não é aí que se encontra o seu maior potencial. Quem quiser ir e discutir, será ótimo! |De qualquer jeito, vou por aqui uma versão resumida do texto. (Daniel Faria)
V Encontro Regional da Anpuh/DF
A cidade capital: Da cidade ideal a cidade real
Brasília, 27-30 de setembro de 2010
Departamento de História, UnB
Programação geral
27 de setembro (segunda-feira)
9:00 Abertura do Encontro. Estevão de Rezende Martins (Presidente da ANPUH/DF) [local: Auditório do IH]
9:30-12:00: Conferências [local: Auditório do IH]
Grace Maria Machado de Freitas (IdA/UnB): Dos “50 anos em 5” aos 50 e aos outros: plano e utopia
Anamaria Diniz (FAU/UnB): A Goiânia pensada e a Goiânia realizada: transmutações de uma cidade incompleta
Estevão de Rezende Martins (His/Unb): Coordenador
Pedro de Andrade Alvim (IdA /UnB): Debatedor
Almoço
14:30-17:00: Conferências [local: Auditório do IH]
Fernanda Bicalho (UFF): Uma capital em dois tempos: a transferência da sede do vice-reinado e da corte portuguesa para o Rio de Janeiro
Roberto Conduru (UERJ): Rio de Janeiro, capital das artes
Albene Miriam Menezes (His/Unb): Coordenadora
Diva Gotijo Muniz (His/Unb): Debatedora
28 de setembro (terça-feira)
9:30-12:00: Conferências [local: Auditório do IH]
José Otávio Nogueira Guimarães (His/Unb): Fundação e experiências do tempo: entre a polis e Brasília
Noé Sandes (UFG): Memória, história e região: a cidade capital, Goiânia
Celso da Silva Fonseca (His/Unb): Coordenador
Marilde Loiola de Menezes (Ipol/Unb): Debatedora
Almoço
14:30-17:00: Conferências [local: Auditório do IH]
Scott Randal Paine (Fil/Unb): As duas cidades de Santo Agostinho: Coincidência e Transcedência
Susani Lemos (UNESP/Franca): Lisboa medieval: a cidade das crônicas, as crônicas da cidade
Antonio Barbosa (His/Unb): Coordenador
Estevão de Rezende Martins (His/Unb): Debatedor
29 de setembro (quarta-feira)
9:00-12:00: Simpósios Temáticos
Simpósio 2: Ensino de História na cidade capital. Coordenadoras: Edlene Oliveira Silva e Susane Rodrigues de Oliveira [local: Sala de projetos especiais do HIS]
Simpósio 4: Espaços urbanos, população e economia na história social. Coordenador: Tiago Luís Gil [local: Sala de reuniões do HIS]
Almoço
14:00-18:00: Simpósios Temáticos
Simpósio 2: Ensino de História na cidade capital. Coordenadoras: Edlene Oliveira Silva e Susane Rodrigues de Oliveira [local: Sala de projetos especiais do HIS]
Simpósio 5: Pólis, Civitas, Cidade de Deus: tempo, política e religião. Coordenadores: José Otávio Nogueira Guimarães e Maria Filomena Coelho [local: Sala de reuniões do HIS]
30 de setembro (quinta-feira)
9:00-12:00 Simpósios Temáticos
Simpósio 1: Cidades reais imaginadas. Coordenadores: Arthur Assis e Marcelo Balaban [local: Sala de projetos especiais do HIS]
Simpósio 3: Brasília e suas preexistências. Coordenadores: Andrey Rosenthal Schlee e Estevão de Rezende Martins [local: Auditório do IH]
Almoço
14:00-17:45: Simpósio Temático
Simpósio 3: Brasília e suas preexistências. Coordenadores: Andrey Rosenthal Schlee e Estevão de Rezende Martins [local: Auditório do IH]
Intervalo
18:00: Encerramento/Assembleia Geral da Anpuh/DF [local: Auditório do IH]
V Encontro Regional da Anpuh/DF
A cidade capital: Da cidade ideal a cidade real
Brasília, 27-30 de setembro de 2010
Departamento de História, UnB
Programação geral
27 de setembro (segunda-feira)
9:00 Abertura do Encontro. Estevão de Rezende Martins (Presidente da ANPUH/DF) [local: Auditório do IH]
9:30-12:00: Conferências [local: Auditório do IH]
Grace Maria Machado de Freitas (IdA/UnB): Dos “50 anos em 5” aos 50 e aos outros: plano e utopia
Anamaria Diniz (FAU/UnB): A Goiânia pensada e a Goiânia realizada: transmutações de uma cidade incompleta
Estevão de Rezende Martins (His/Unb): Coordenador
Pedro de Andrade Alvim (IdA /UnB): Debatedor
Almoço
14:30-17:00: Conferências [local: Auditório do IH]
Fernanda Bicalho (UFF): Uma capital em dois tempos: a transferência da sede do vice-reinado e da corte portuguesa para o Rio de Janeiro
Roberto Conduru (UERJ): Rio de Janeiro, capital das artes
Albene Miriam Menezes (His/Unb): Coordenadora
Diva Gotijo Muniz (His/Unb): Debatedora
28 de setembro (terça-feira)
9:30-12:00: Conferências [local: Auditório do IH]
José Otávio Nogueira Guimarães (His/Unb): Fundação e experiências do tempo: entre a polis e Brasília
Noé Sandes (UFG): Memória, história e região: a cidade capital, Goiânia
Celso da Silva Fonseca (His/Unb): Coordenador
Marilde Loiola de Menezes (Ipol/Unb): Debatedora
Almoço
14:30-17:00: Conferências [local: Auditório do IH]
Scott Randal Paine (Fil/Unb): As duas cidades de Santo Agostinho: Coincidência e Transcedência
Susani Lemos (UNESP/Franca): Lisboa medieval: a cidade das crônicas, as crônicas da cidade
Antonio Barbosa (His/Unb): Coordenador
Estevão de Rezende Martins (His/Unb): Debatedor
29 de setembro (quarta-feira)
9:00-12:00: Simpósios Temáticos
Simpósio 2: Ensino de História na cidade capital. Coordenadoras: Edlene Oliveira Silva e Susane Rodrigues de Oliveira [local: Sala de projetos especiais do HIS]
Simpósio 4: Espaços urbanos, população e economia na história social. Coordenador: Tiago Luís Gil [local: Sala de reuniões do HIS]
Almoço
14:00-18:00: Simpósios Temáticos
Simpósio 2: Ensino de História na cidade capital. Coordenadoras: Edlene Oliveira Silva e Susane Rodrigues de Oliveira [local: Sala de projetos especiais do HIS]
Simpósio 5: Pólis, Civitas, Cidade de Deus: tempo, política e religião. Coordenadores: José Otávio Nogueira Guimarães e Maria Filomena Coelho [local: Sala de reuniões do HIS]
30 de setembro (quinta-feira)
9:00-12:00 Simpósios Temáticos
Simpósio 1: Cidades reais imaginadas. Coordenadores: Arthur Assis e Marcelo Balaban [local: Sala de projetos especiais do HIS]
Simpósio 3: Brasília e suas preexistências. Coordenadores: Andrey Rosenthal Schlee e Estevão de Rezende Martins [local: Auditório do IH]
Almoço
14:00-17:45: Simpósio Temático
Simpósio 3: Brasília e suas preexistências. Coordenadores: Andrey Rosenthal Schlee e Estevão de Rezende Martins [local: Auditório do IH]
Intervalo
18:00: Encerramento/Assembleia Geral da Anpuh/DF [local: Auditório do IH]
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Pesquisando II
Como já mencionado aqui no blog, estou fazendo o PIC ( Programa de Iniciação Científica) e tendo feito algumas “ descobertas” e me propus a compartilhá-las com vocês.
No mercado já existem inúmeros trabalhos orientando a redação de textos científicos. Mas, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) teve a louvável atitude de lançar um curso on-line de redação de textos científicos.
O curso é gratuito e apresentado no formato audiovisual. A coordenação é do professor Gilson Volpato, do Instituto de Biociências de Botucatu da Unesp, e alguns módulos contam com a participação da pró-reitora de Pós-Graduação, Marilza Vieira Cunha Rudge.
O programa abrange temas como: “Controvérsias sobre os dados”, “Por que publicar?”, “O que publicar?”, “Idioma da publicação”, “Causas de negação dos artigos”, “O lado educacional”, “Como as revistas podem ajudar”, “Como os autores podem ajudar”, “Passos para a publicação”.
Os vídeos são relativamente curtos. Portanto, se você não tem tempo suficiente para vê-los por completo pode assistir apenas ao tema que te interessa.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
O Mito da imparcialidade: Israel, terrorismo e a imprensa*
Não há como não comentar a forma extremamente falaciosa com que a imprensa brasileira noticiou o ataque da força aérea israelense à Faixa de Gaza, em 1.º de março de 2008, quando morreram cerca de oitenta pessoas, segundo a BBC. A atitude da imprensa brasileira sustentou as acusações da comunidade árabe de que a máxima: "árabes atacam e Israel responde" não são resultados de especulações sensacionalistas e vazias. Sem correspondentes fixos, com excessão da "base" em Nova York onde se abastecem, quando algum fato exige, com reportagens enviadas por agências internacionais como a Reuters e Associated Press, a imprensa brasileira limita-se a reproduzir notícias tão carregadas de parcialidade que chega a ser constrangedor. Das duas, uma: ou esses grandes veículos estão realmente desinformados, ou querem desinformar propositalmente.
Naquele mesmo dia, o âncora do Jornal da Band apresentava a notícia "Israel ataca a Faixa de Gaza e mata mais de cinqüenta palestinos". A Rede Bandeirantes pertence a Johnny Saad, neto de imigrantes árabes. Na Rede Globo, o Jornal Nacional anunciou às 20h30 que "Israel ataca a Faixa de Gaza e mata mais de cinqüenta palestinos em resposta aos ataques com foguetes do Hamas". O jornalismo da Globo seguiu a orientação das agências internacionais, certamente embutida em sua linha editorial, caso contrário não seria aprovada. Além da redução do número de vítimas para setenta, em relação à BBC, a Folha de S.Paulo também não escapou do padrão internacional no dia seguinte, 2 de março. O título saiu assim: "Ofensiva é uma retaliação aos ataques com foguetes". Em outra reportagem, agora no Portal G1: "Israel expulsa militantes pró-palestinos". Pode parecer normal, se não fosse um detalhe: militantes palestinos é como o portal costuma chamar os integrantes de grupos “terroristas”, e não de ativistas humanitários. Não acredite em mim, faça uma busca no G1 e comprove, como bem mostra a reportagem de 25/05 intitulada: "Israel bombardeia Gaza após ataques de foguetes de militantes palestinos". Ou seja, uma resposta ao terrorismo palestino. Israel apenas cumpriu seu papel de guardião da paz nos territórios ocupados.
Primeiramente, deve-se notar o uso incorreto de certas palavras nas notícias. Os ativistas não foram detidos, como disseram o G1 e O Globo, nem mesmo foram presos já que estavam em águas internacionais, e a marinha israelense não tem qualquer jurisdição lá. Então, os ativistas foram SEQÜESTRADOS, seria a palavra mais correta. Pelo simples fato do serviço sujo ter sido feito por uma força militar legal e constituída (apoiada pelos EUA) parece que existe uma certa amenização no tocante a verdade. Mais: os objetos dos ativistas foram roubados, já que não existia autorização legal para os israelenses a levarem. Os navios não estavam em águas israelenses, e como Israel tomou a dianteira, se tornou o criminoso da história. Também não existiu deportação. Deportar é quando alguém entra no seu país ilegalmente, e você o expulsa. Os ativistas foram postos em liberdade.
Não é uma simples questão de incluir os sempre proibidos (pelos defensores da inexistente imparcialidade jornalística) adjetivos, mas sim de usar termos incorretos para dar um panorama diferente do verdadeiro. Eu mesmo sou a favor do alinhamento de veículos jornalísticos com idéias, sejam elas políticas ou libertárias, assim como a própria História deve ser, desde que se faça isso de forma clara, séria e nunca deixando de se ater aos fatos.
O Globo, por exemplo, publicou uma matéria intitulada: Soldados Israelenses são atacados por supostos ativistas. Creio estar certo ao dizer que autodefesa é um ato para remediar um ataque que está sendo efetuado. Agora me pergunto: que ataque é esse em que os ativistas fizeram aos militares israelenses, sendo que o foi o navio deles que estava sendo invadido em águas internacionais? O ataque e o posterior massacre dos israelenses foi um ato criminoso, e desta maneira, a defesa por parte dos ativistas com o que tinham em mãos foi legítima. Se um ladrão tenta roubar seu carro, e você o espanca, o ladrão está correto? Se está correto eu não sei, mas que é uma reação perfeitamente previsível isso é. Fora que esses mesmos veículos não se fixaram em perguntar o que rolou antes dos espancamentos, já que os vídeos foram oficiais de Israel, e tiveram seus inícios cortados.
Tudo é mascarado pela bandeira da imparcialidade. Os israelenses não são tratados como invasores, mas colonos. Israel não ataca, mas se defende. Quando os palestinos atacam ou se defendem nos territórios em litígio, eles são julgados pela imprensa como assassinos de colonos judeus, enquanto soldados israelenses matam terroristas. O professor Holdorf comenta: "(...) as diferenças semânticas expostas pela imprensa comprometem a imagem de um ou outro lado do conflito." O que claramente favorece Israel, pois o assassinato é premeditado, uma ação humana contra o semelhante. Já o verbo matar não ressuscita ninguém, mas suaviza as atitudes. Pode denotar autodefesa.
Mas, logicamente que houve violência. Os ativistas realmente deram uma boa surra nos soldados armados com pedaços de pau, chinelos e sacolas de alimentos contra metralhadoras snipers. Os números não mentem: um soldado de Israel ferido, e 10 ativistas assassinados + 30 feridos.
Israel declarou a Faixa de Gaza como "território inimigo" em agosto de 2007, oito meses depois de o grupo radical Hamas ter vencido as eleições parlamentares na região autônoma palestina. O objetivo era aumentar a pressão para que o Hamas cessasse os disparos de foguetes, quase que diários, contra o território israelense. Outra medida foi a interrupção de energia elétrica e de bens de luxo para quase 1,5 milhões de habitantes. Em 2008, Israel fechou a fronteira com a Faixa de Gaza e interrompeu o abastecimento de combustível. Somente suprimentos de ajuda humanitária podem ser importados e a entrada de matéria-prima no país é proibida.
* Bill, estudante de História da Universidade de Brasília
Naquele mesmo dia, o âncora do Jornal da Band apresentava a notícia "Israel ataca a Faixa de Gaza e mata mais de cinqüenta palestinos". A Rede Bandeirantes pertence a Johnny Saad, neto de imigrantes árabes. Na Rede Globo, o Jornal Nacional anunciou às 20h30 que "Israel ataca a Faixa de Gaza e mata mais de cinqüenta palestinos em resposta aos ataques com foguetes do Hamas". O jornalismo da Globo seguiu a orientação das agências internacionais, certamente embutida em sua linha editorial, caso contrário não seria aprovada. Além da redução do número de vítimas para setenta, em relação à BBC, a Folha de S.Paulo também não escapou do padrão internacional no dia seguinte, 2 de março. O título saiu assim: "Ofensiva é uma retaliação aos ataques com foguetes". Em outra reportagem, agora no Portal G1: "Israel expulsa militantes pró-palestinos". Pode parecer normal, se não fosse um detalhe: militantes palestinos é como o portal costuma chamar os integrantes de grupos “terroristas”, e não de ativistas humanitários. Não acredite em mim, faça uma busca no G1 e comprove, como bem mostra a reportagem de 25/05 intitulada: "Israel bombardeia Gaza após ataques de foguetes de militantes palestinos". Ou seja, uma resposta ao terrorismo palestino. Israel apenas cumpriu seu papel de guardião da paz nos territórios ocupados.
Primeiramente, deve-se notar o uso incorreto de certas palavras nas notícias. Os ativistas não foram detidos, como disseram o G1 e O Globo, nem mesmo foram presos já que estavam em águas internacionais, e a marinha israelense não tem qualquer jurisdição lá. Então, os ativistas foram SEQÜESTRADOS, seria a palavra mais correta. Pelo simples fato do serviço sujo ter sido feito por uma força militar legal e constituída (apoiada pelos EUA) parece que existe uma certa amenização no tocante a verdade. Mais: os objetos dos ativistas foram roubados, já que não existia autorização legal para os israelenses a levarem. Os navios não estavam em águas israelenses, e como Israel tomou a dianteira, se tornou o criminoso da história. Também não existiu deportação. Deportar é quando alguém entra no seu país ilegalmente, e você o expulsa. Os ativistas foram postos em liberdade.
Não é uma simples questão de incluir os sempre proibidos (pelos defensores da inexistente imparcialidade jornalística) adjetivos, mas sim de usar termos incorretos para dar um panorama diferente do verdadeiro. Eu mesmo sou a favor do alinhamento de veículos jornalísticos com idéias, sejam elas políticas ou libertárias, assim como a própria História deve ser, desde que se faça isso de forma clara, séria e nunca deixando de se ater aos fatos.
O Globo, por exemplo, publicou uma matéria intitulada: Soldados Israelenses são atacados por supostos ativistas. Creio estar certo ao dizer que autodefesa é um ato para remediar um ataque que está sendo efetuado. Agora me pergunto: que ataque é esse em que os ativistas fizeram aos militares israelenses, sendo que o foi o navio deles que estava sendo invadido em águas internacionais? O ataque e o posterior massacre dos israelenses foi um ato criminoso, e desta maneira, a defesa por parte dos ativistas com o que tinham em mãos foi legítima. Se um ladrão tenta roubar seu carro, e você o espanca, o ladrão está correto? Se está correto eu não sei, mas que é uma reação perfeitamente previsível isso é. Fora que esses mesmos veículos não se fixaram em perguntar o que rolou antes dos espancamentos, já que os vídeos foram oficiais de Israel, e tiveram seus inícios cortados.
Tudo é mascarado pela bandeira da imparcialidade. Os israelenses não são tratados como invasores, mas colonos. Israel não ataca, mas se defende. Quando os palestinos atacam ou se defendem nos territórios em litígio, eles são julgados pela imprensa como assassinos de colonos judeus, enquanto soldados israelenses matam terroristas. O professor Holdorf comenta: "(...) as diferenças semânticas expostas pela imprensa comprometem a imagem de um ou outro lado do conflito." O que claramente favorece Israel, pois o assassinato é premeditado, uma ação humana contra o semelhante. Já o verbo matar não ressuscita ninguém, mas suaviza as atitudes. Pode denotar autodefesa.
Mas, logicamente que houve violência. Os ativistas realmente deram uma boa surra nos soldados armados com pedaços de pau, chinelos e sacolas de alimentos contra metralhadoras snipers. Os números não mentem: um soldado de Israel ferido, e 10 ativistas assassinados + 30 feridos.
Israel declarou a Faixa de Gaza como "território inimigo" em agosto de 2007, oito meses depois de o grupo radical Hamas ter vencido as eleições parlamentares na região autônoma palestina. O objetivo era aumentar a pressão para que o Hamas cessasse os disparos de foguetes, quase que diários, contra o território israelense. Outra medida foi a interrupção de energia elétrica e de bens de luxo para quase 1,5 milhões de habitantes. Em 2008, Israel fechou a fronteira com a Faixa de Gaza e interrompeu o abastecimento de combustível. Somente suprimentos de ajuda humanitária podem ser importados e a entrada de matéria-prima no país é proibida.
* Bill, estudante de História da Universidade de Brasília
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
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