domingo, 7 de março de 2010

Marc Bloch. Sobre o ofício do historiador.

“Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Michelet, Fustel de Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça. Do caráter da história como conhecimento dos homens decorre sua posição específica com relação ao problema da expressão. Será uma ciência? Ou uma arte? Sobre isso, nossos bisavós, por volta de 1800, gostavam de dissertar gravemente. Mais tarde, por volta de 1890, banhados em uma atmosfera de positivismo um pouco rudimentar, pôde-se ver especialistas do método indignarem-se com que, nos trabalhos históricos, o público desse importância, para eles excessiva, ao que eles chamavam ‘forma’. Não há menos beleza numa equação exata do que numa frase correta. Mas cada ciência tem sua estética da linguagem que lhe é própria. Os fatos humanos são, por essência, fenômenos muito delicados, entre os quais muitos escapam à medida matemática.”

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