quinta-feira, 29 de abril de 2010

Para pensar

"Quer se situe em 1558 ou no ano da graça de 1958, trata-se, para quem quer compreender o mundo, de definir uma hierarquia de forças, de correntes, de movimentos particulares, depois, apreender de novo uma constelação de conjunto. A cada instante dessa pesquisa, será preciso distinguir entre movimentos longos e impulsos breves, estes, tomados desde suas fontes imediatadas, aqueles, no impuloso de um tempo longínquo. O mundo de 1558, tão enfadonho no momento francês, não nasceu ao umbral desse ano sem encanto. E tampouco, sempre no momento francês, nosso difícil ano de 1558. Cada "atualidade" reúne movimentos de origem, de ritmo diferentes: o tempo de hoje data, ao mesmo tempo, de ontem, de anteontem, de outrora."


"Claude Lévi-Strauss pretende que uma hora de conversação com um contemporâneo de Platão o informaria, mais que nossos discursos clássicos, sobre a coerência ou a incoerência da civilização da Grécia antiga. Estou bem de acordo com isso. Mas é que durante anos, ele ouviu cem vozes gregas salvas do silêncio. O historiador preparou a viagem. Uma hora na Grécia de hoje não lhe ensinará nada, ou quase, acerca das coerências ou incoerências atuais."

Braudel, Fernand in Escritos sobre a história.

Nota. Quanto ao comentário a respeito de Lévi-Strauss, Braudel escreve insistindo na interdisciplinariedade de que as ciências do homem necessitam ter, em uma época em que a história era desmerecida por parte das ciências sociais. Está dando uma resposta ao posicionamento de Lévi-Strauss, da história enquanto conhecimento não científico, e afirmando que o inquiridor do tempo presente também se encontra na condição de "reconstruir", por chegar apenas nas "tramas finas das estruturas", desconsiderando uma longuíssima duração.

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