sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Beleza do Século Dezoito. Poema de Sosígenes Costa

Grande dama brasileira,
adorno da casa-grande,
a dona da casa de saia de chita,
camisa de flores bordadas,
corpete de veludo
e ainda por cima uma faixa.
E com chinelas de cara de gato?
Tudo é possível nesta casa-grande.

Senhora de baraço e cutelo,
encantos de quem tem saudades
por um tempo que não volta mais,
a dona da casa de saia de chita,
camisa de flores bordadas
e cheia de colares e tetéias
e berloques e figas e cabelos encastoados,
numa ourama dos pecados
e veja só:
sentada ali na esteira entre mucamas e moleques,
em vez de ir sentar-se no sofá de jacarandá
com decorações, incrustrações, entalhes, o diabo,
e do tamanho de um bonde?
Tudo é possível nesta casa-grande.

A dona da casa de saia de chita,
camisa de flores bordada
e corpete de veludo
e saindo de casa nestes trajes, santo Deus,
para a missa da festa,
acompanhada de mucamas e moleques
e a negrada carregando a princesa nas costas
dentro de uma rede coberta de pesados tapetes,
conforme diz a crônica muito amável.

Mandarina de Pernambuco,
mandachuva da senzala,
delícias de quem tem saudades,
lembrança de quem suspira
por um tempo muito bonito
mas em que se apanhava muito
de chicote de cavalo
e que não há de voltar mais,
com fé em Deus.

Dentro desta evocação
há muitas flores, Perpétua.
Há um bocado de suspiro
e outro tanto de saudade
e a vontade que ainda viva
aquele rei de Portugal.

Pode suspirar à vontade
que aquele tempo, sempre-viva,
não há de voltar mais,
com fé em Deus."

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