domingo, 1 de novembro de 2009

Narrativa

Basicamente, entende-se por narrativa um tipo de discurso que se refere a uma temporalidade. Discurso no sentido de linguagem que obedece a certas regras de coerência e organização. A narrativa então implica a idéia de sequência e causalidade, bem como de personagens agentes e vítimas de ação. Implica também a construção de uma trama, uma intriga, que visa uma síntese dos acontecimentos, por meio de ações, causas, acidentes, dentro da temporalidade de uma ação total. Ou seja, a narrativa coloca dentro de uma mesma história (trama, intriga), eventos múltiplos, e algumas vezes até aparentemente desconexos, de forma a criar uma significação inteligível.

Há de se pensar as narrativas como plurais e heterogêneas: a narrativa pode se sustentar pela linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, pelo gesto. Está presente no mito, no conto, em crônicas, nos jornais, no cinema, no teatro, no romance, na história... e para além disso, está presente nas diferentes sociedades e nos diferentes tempos.


Narrativa e História

Ao longo do século XX, a historiografia buscou um distanciamento em relação à forma expressamente narrativa. De um lado, a historiografia francesa, questionou a biografia (grandes nomes da história), a busca das origens e a história fatual, entendida entre outras coisas, como aquela história de acontecimentos pontuais (como por exemplo, a história das batalhas). Isso resultou em um ataque à narrativa (ataque nunca direto), a partir do momento em que a forma narrativa foi pensada como equivalente à história política/fatual criticada pelos Annales. De outro, um ataque por parte do positivismo lógico, que buscava uma afirmação da unidade de ciência da história.

A partir dos anos 1960, o que se tem é uma lenta retomada do tema da narrativa em história, fruto de um esfacelamento do modelo nomológico (explicação da história por leis gerais e explicações lógicas), e da reavaliação da narrativa, sobretudo sobre o seu caráter não apenas episódico, mas sim produtor de conhecimento. Atualmente o que se tem é um retorno do estatuto de narrativa à história, que não implica uma negação de seu estatuto enquanto ciência (apesar do debate ciência x literatura ou arte ainda se fazer presente).

Quanto a isso, Paul Ricouer (filósofo francês), em sua obra Tempo e Narrativa, defende a tese de que “a história mais distante da forma narrativa continua a ser ligada à compreensão narrativa por um laço de derivação” (pág. 134). Derivação indireta essa (bastante ressaltada pelo autor), que diz respeito ao ato de configuração/invenção de uma intriga. E assim sendo, a história abandonando a configuração de uma intriga, uma trama, perderia sua característica distintiva das outras ciências sociais.


Referências Bibliográficas:


EDGAR, Andrew; SEDGWICK, Peter (Coord.) Teoria cultural de A a Z: conceitos-chave para entender o mundo contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003. (Na BCE: 301(03) T314c =690 )

DUBOIS, Jean. Dicionario de linguistica. 3. ed. Sao paulo: Cultrix, 1988. (Na BCE: 801(03)=690 D546d 3. ed.)

BARTHES, Roland. Análise estrutural da narrativa: pesquisas semiológicas. 4. ed. Petrópolis: Editora Vozes Ltda, 1976. (Na BCE: 82.01 A532s =690 4. ed.)

RICOEUR, Paul,. Tempo e narrativa. Campinas: Papirus, 1997, v. 1. (Na BCE: 82.085 R541t =690)

VEYNE, Paul. Como se escreve a historia. 3. ed. Brasilia: Editora Universidade de Brasília, 1995. (Na BCE: 930.1 V595c 3. ed. =690)

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